Me lembro exatamente da primeira vez que cheguei em Londres e de como gostava de caminhar por Kensington, especialmente de passear pela região da Kensington Road, observando com curiosidade a quantidade de Paquistaneses e Indianos à minha volta com suas roupas vistosas. Era a primeira vez que os via de perto, estavam por todos os lados, nos comércios, nos restaurantes e até como responsáveis pela venda da mais ilustre iguaria Inglesa, o Fish and Chips.
Anos mais tarde, já vivendo em Barcelona, tive a oportunidade de conviver bem de perto com esse fascinante e misterioso universo, composto de gente tão distinta a nós e que é muito mais interessante do que a caricatura de qualquer novela das oito.
Minha casa ficava bem perto do Raval, que, como já anteriormente comentei, é o bairro das diversidades étnicas e religiosas por excelência. Línguas como Urdu, Punjabi, Hindi, Kashmiri e Bengali ali são triviais e facilmente audíveis pelas suas ruas (mas não, isso não quer dizer que eu possa diferenciar uma de outra).
Recordo minha reação de surpresa ao flagrar aqueles homens de tons pardos em seus quase pijamas, com ou sem turbante, sempre conversando olhos nos olhos e de mãos dadas pelas ruas, como se fossem amantes apaixonados.
O cheiro dos Duruns e Kebabs no pão pita quentinho, companheiros inseparáveis de tantas madrugadas.
E também a extrema gentileza nos seus gestos comedidos, reservados e solícitos, além do seu tino comercial apurado que faz com que sobressaiam no quesito trabalho duro. Realmente, é impressionante observar aos Pakis, como eu os chamava, trabalhando. Sua disposição deveria servir de exemplo para mais de um ocidental, mas, infelizmente não é bem assim.
São capazes de colocar toda a família se revezando em turnos e deixar a loja aberta 24 horas se for possível. Nada que ver com o famoso hábito da siesta na Espanha, que faz com que durante a maior parte da tarde o comércio simplesmente não funcione. Só Deus sabe como teria sido a minha vida sem a ajuda dos Spars. Onde mais se encontra cerveja a 0,60 de Euro?
Uma outra coisa chama a atenção na Europa e não é de hoje, boa parte do Europeu médio se recusa terminantemente a desempenhar determinadas funções, consideradas como sendo inapropriadas de um "homem de bem", branco e Europeu. Entre elas está a limpeza, o pequeno comércio, a função de garçon e outros serviços de atendimento ao público em caráter servil.
Sendo assim, nada mais natural que essas funções, tidas como menos nobres, sejam ocupadas por gente que não está ali para perder seu tempo com bobagem, os imigrantes.
E de fato é assim, os imigrantes, desempenhando o trabalho renegado pelos Europeus, não só encontram a sua forma de sobrevivência, como ainda representam uma injeção de força na mais do que combalida economia Européia. Não deveria haver problema, certo? Errado.
Ainda me lembro de um movimento feito pela prefeitura com o intuito de proibir os estabelecimentos dos Pakis de funcionar depois das 20:00 (quando o comércio em geral fecha e ninguém tem mais opção de coisa alguma), com o argumento de que representavam um desequilíbrio junto aos demais comerciantes. Ora bolas, se eu quero trabalhar até meia-noite enquanto os locais descansam qual é o problema?
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Assim que, vira e mexe a comunidade era alvo de ataques, mais ou menos sutis, por parte do poder público e da sociedade local, indignados - e não raro amedrontados - com a nova realidade multicultural da sua cidade. Eu cá tenho a impressão de que o que os incomoda mesmo, é o fato de que os imigrantes, prósperos ou não, parecem muito mais felizes do que eles. Não é curioso?
É isso que muitas vezes acontece quando não se sabe como lidar com as diferenças, temos medo. Alie-se a isso uma perspectiva econômica cinzenta e logo nasce a dor de cotovelo, o racismo e o preconceito. O mesmo preconceito que alimenta os partidos nacionalistas, aparentemente em franca ascensão, e que serve de fomento às hordas de trabalhadores locais na hora de culpar os estrangeiros pela falta de emprego e demais problemas sociais enfrentados.
Na Espanha em particular, o termo despectivo Sudaka é amplamente empregado para qualificar Latino Americanos em geral e manifestações de cunho xenófobo são bastante frequentes.
É um problema antigo e que volta à tona nessa época de crise mundial com força avassaladora. E eu aqui me pergunto como estarão indo meus amigos, Salim, Shauar e o dono da vendinha da esquina, que tão bem me tratou durante todos esses anos de convívio (embora não houvesse maneira de convencê-lo de que eu era Brasileiro, ele tem certeza até hoje de que sou Italiano).
É isso que muitas vezes acontece quando não se sabe como lidar com as diferenças, temos medo. Alie-se a isso uma perspectiva econômica cinzenta e logo nasce a dor de cotovelo, o racismo e o preconceito. O mesmo preconceito que alimenta os partidos nacionalistas, aparentemente em franca ascensão, e que serve de fomento às hordas de trabalhadores locais na hora de culpar os estrangeiros pela falta de emprego e demais problemas sociais enfrentados.
Na Espanha em particular, o termo despectivo Sudaka é amplamente empregado para qualificar Latino Americanos em geral e manifestações de cunho xenófobo são bastante frequentes.
É um problema antigo e que volta à tona nessa época de crise mundial com força avassaladora. E eu aqui me pergunto como estarão indo meus amigos, Salim, Shauar e o dono da vendinha da esquina, que tão bem me tratou durante todos esses anos de convívio (embora não houvesse maneira de convencê-lo de que eu era Brasileiro, ele tem certeza até hoje de que sou Italiano).
Tive vontade de escrever sobre isso hoje de manhã, enquanto me vestia para ir trabalhar, ouvindo o maravilhoso Sound Affects do Jam. Mais precisamente escutando Man In The Cornershop, uma pérola do Weller que, com o seu habitual olhar crítico e aguçado, já tratava disso há exatos 28 anos.
Aqui vai o meu tributo a todos vocês meus caros, em qualquer esquina, em qualquer lugar...for God created all men equal!
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