terça-feira, 22 de setembro de 2009

boutiques hippophagiques


Sempre gostei de cavalo, quando menino adorava as férias em Teresópolis porque me permitia cavalgar pela Granja Comary e sentir o gostinho de ser cowboy ainda que por um breve instante. As idas eventuais ao Jockey também me fascinavam, ver aqueles belos animais desfilando antes das provas era uma experiência e tanto.

Na minha estada na Europa, entretanto, acabei gostando ainda mais do animal por razões que nada têm a ver com as memórias da infância. É que bem perto de casa havia um açougue especializado em ... carne de cavalo.

E antes que os puristas me condenem e façam cara de nojo é preciso dizer que, uma vez despidos os preconceitos, trata-se de uma iguaria das mais finas. A carne de cavalo pode ser tabu para muitos, mas é bastante difundida entre vários países Europeus, especialmente na França, Espanha e Itália e foi assim que eu pude conhecer e ficar fã do inusitado petisco.

No Reino Unido, o abate, preparação e consumo de cavalos para comida não é contra a lei, embora na prática tenha esteja fora de moda desde os anos 30 e exista um forte tabu contra ela.

It is notable that, despite horses having been bred in England since pre-Roman times, the English language has no widely used term for horse meat, as opposed to four for pig meat (pork, bacon, ham, gammon), three for sheep meat (lamb, hogget and mutton), two for cow meat (beef and veal), and so on. English speaking countries, however, have sometimes marketed horsemeat under the euphemism "cheval meat" (cheval being the French for horse). Also, note that the words pork, bacon, mutton, veal, and beef all derive from an old version of French, because of the class structure of England after the Norman Conquest in 1066 CE: the poor (Saxons) tended the animals, while the rich (French-speaking Normans) ate the meat. The peasants had very little to do with horses.

De um modo geral, o tema é tabu principalmente pelo vinculo afetivo que nos une a esses belos animais, à semelhança dos cachorros (que na Coréia entram na panela), a maioria das pessoas acha inconcebível come-los. Fatores como religião, cultura, preferências de paladar e preconceito gratuito também ajudam a carne a não ser item dos mais populares em muitos países, dentre eles o Brasil. No entanto, trata-se de carne das mais ricas e saborosas, assemelhando-se à carne bovina na aparência, embora mais escura, e possuindo paladar mais doce e delicado.

O fato é que já na Idade Média se consumia carne de cavalo em festas pagãs do norte da Europa, especialmente em homenagem a Odin. A Igreja Católica preocupada com a popularidade destas celebrações aproveitou o ensejo e proibiu o seu consumo, devido a sua associação com os ritos pagãos, ajudando a desestimular o hábito. Somente no século XIX, com a ajuda das guerras - o cirurgião-chefe de Napoleão, que sabia das coisas, incentivava as tropas famintas a consumi-la (vide campanha russa) - o costume voltou a ser comum na Europa, até porque eram tempos de vacas magras (com trocadilho) e a sua carne era mais barata e acessível do que as demais. O fato é que, após o fim do cerco de Paris, muitos Parisienses a incorporaram definitivamente ao seu dia-a-dia e surgiram os primeiros açougues especializados.

No Japão, em função de restrições à exploração pesqueira, em especial do atum, tem se elevado o consumo de sushi feito com carne de cavalo (sakura ou sakuraniku - sakura = botão da cerejeira, niku = carne). A sua aceitação é tal que faz com que o sushi de carne de cavalo tenha preços mais elevados que o tradicional a base de peixe.

A minha experiência inicial foi sob a forma de embutido defumado e digo que foi uma grata surpresa, depois provei em uma outra oportunidade sob a forma de bife e acabei por me converter definitivamente em um entusiasta.

O que muita gente ignora, é que o Brasil é um dos principais produtores de carne de cavalo, abastecendo o mercado externo e principalmente os mercados da Europa e Ásia.

Curiosamente, os cavalos abatidos não são os da hípica, mas sim os cavalos de tração, de serviço, que uma vez encerrada a vida útil são descartados. Respirem aliviados, fim de vida mais digno não há.

Preconceito por preconceito, se o ato de comer cavalo ativa o seu sentimentalismo, pense também no leitãozinho nosso de cada dia, no cordeiro que chora no pasto ao notar que vai ser executado e em tantas outras espécies que são abatidas para o nosso deleite.

A verdade é que, quando o assunto é carne, o cavalo não merece maior consideração do que qualquer outro animal (salvo se alguém tocar os meus gatos que aí eu mato), a sua carne, no entanto, merece toda a nossa admiração.
Além do que, mesmo após a sua morte continuam a nos dar prazer, não são loucos, não passam gripe e são deliciosos.

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