Eu agora me pego navegando na internet e acessando sites sobre os nomes permitidos em Portugal, sobre qual o melhor nome para dotar o seu filho com as qualidades próprias de um mafioso ou como me sentir um pouco mais participativo nesse processo tão único e especial como pode ser a gravidez.
Não nos enganemos, o privilégio da gestação, de dar vida a outro ser, a beleza proporcionada por esse processo é uma experiência inteiramente feminina, a nós cabe ficar ali olhando, torcendo, fazendo as vontades da futura mãe e tentando atrapalhar o menos possível.
Confesso que, passado o susto inicial, há momentos em a ficha parece ainda não ter caído e ao mesmo tempo tudo já mudou. Talvez seja o fato de que olho para aquela linda barriga e ela continue igualzinha por fora. Minha mulher tem mais sorte, já vivencia toda sorte de sensações, emoções, eles já são um. E eu aqui fora, com essa cara de bobo risonho que atualmente envergo, não me sinto excluído de nenhuma maneira, mas que dá certa inveja ah isso dá.
Preciso conversar mais com o gergelim (como eu o chamo), dizer a ele o quanto ele já é amado e como eu farei de tudo para ser o melhor pai que ele poderia ter. Que ele nasça saudável, que ele seja melhor do que eu, mais feliz do que eu, que ele tenha paciência comigo e que ele goste de mim. É preciso amar ao papai, direi eu a ele ou a ela quando o tiver nos meus braços. E continuarei dizendo isso até quando os meus abraços e os meus beijos forem motivo de constrangimento, quando chegar a adolescência e ele precisar de mais espaço. Você terá todo o espaço do mundo meu filho, só não me negue um carinho por que aí sim eu te cubro de beijos. Afinal é preciso obedecer ao papai, você sabe.
Seja bem-vindo gergelim, menino ou menina você já é uma alegria para muita gente, alegre-se você também, curta o conforto do seu triplex turbinado que já já a gente se vê.
Divido abaixo o texto que acabei de achar e que, de certa forma, traduz como eu me sinto:
A gravidez de um pai não se dá nas entranhas, mas fora delas.
Ela se dá primeiro no coração, onde o sentimento de paternidade é gerado. Um desejo de ser e de se ver prolongado em outra vida, que seja parte de si mesmo, mas com vida própria. Imagino que deve ser frustrante a princípio. Durante toda a espera, um pai é um pai sem experimentar o gosto de ser, sem os inconvenientes de uma gravidez, mas também sem as lindas emoções que tanto mexem com a gente.
E quando ele sente pela primeira vez a vida que ajudou a gerar, tudo toma outra forma. Ele sente um chute e se diz já que este será um grande jogador de futebol. E muitas vezes se surpreende e se maravilha quando vê uma princesinha que sabe chutar tão bem. Mas tanto faz. Está ali um sonho que se torna palpável.
E um parto de um pai se dá quando ele pega pela primeira vez sua criança nos braços, quando ele se vê em características naquele serzinho tão miudinho que nem se dá conta ainda que veio ao mundo e que se tornou o mundo de alguém. E os sentimentos e emoções se atropelam dentro dele. E ele sente que, à partir desse instante, a vida nunca mais será a mesma. E ele precisa olhar dez, cem, mil vezes para acreditar que tudo não passa de um sonho. E geralmente há um enorme sentimento de orgulho que toma posse dele.
Assim se forma um pai. Pronto para ensinar tudo o que aprendeu da vida, um dia ele descobre que não sabe realmente muito, que na verdade aprende a cada instante. Diante da sua criança ele se torna um adulto vulnerável e acessível. E vai gerando, pouquinho a pouquinho, dentro de si mesmo, a arte de se tornar um pai.