sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

ora pro nobis


Sempre fui um cara católico, minha avó me levava na missa das crianças todo Domingo e eu tocava triângulo, clava ou chocalhinho, acompanhando as lúdicas musiquinhas que nos eram oferecidas. O fato é que, apesar da tocadora de órgão parecer a aeromoça do 14 bis, a missa era divertida e o tempo pelo menos passava rápido.

Depois, já pela casa dos 13 anos, esbarrei acidentalmente com a mãe de um amigo do primário na rua e precipitei o curso do que viria ser a minha adolescência.

Era uma senhora cuja própria mãe usava mortalha desde que eu me entendia por gente, beata e Portuguesa (com certeza), que comunicou-me que o Venancinho estava a crismar-se e que eu deveria fazer o mesmo. Ai Jesus, mais mulher e menos fé! Gritava uma vozinha abafada e precoce vinda lá do baixo ventre.

Pois bem, o fato é que eu acabei indo participar do curso de crisma com o Venancinho e chegando lá meus hormônios pré-adolescentes visualizaram dois anjos do senhor, digo, identificaram duas raparigas que imediatamente me injetaram um surto religioso capaz de emocionar o sumo pontífice.

E assim, compenetrado e contrito, efetivamente me crismei. Depois comecei a cantar na missa dos jovens, ler a primeira e a segunda leitura e ensaiar os meus primeiros passos na vida social (não se preocupem, eu não fiquei virgem até os 30). Apesar de não ter pegado ninguém em tantos anos de olhares furtivos e hormônios em ebulição no meio da celebração, fiz ali alguns dos meus melhores amigos, tive uma adolescência para lá de legal e escapei por pouco de ser padre (mas, como sempre, isso é uma outra estória).

Mesmo tendo me afastado da missa e de grupos de jovens há muito tempo, sempre tive Deus presente na minha vida. Ele e sua mãe já me ajudaram muito e, tenho certeza, continuam a tentar fazer com que eu erre menos e seja mais feliz. Todos os dias tenho provas de coisas maravilhosas que acontecem comigo e procuro manter o espírito elevado e cultivar o sentimento de gratidão por cada uma delas. Entretanto, apesar da minha fé continuar muito bem obrigado, ultimamente tenho notado a minha total falta de saco para a carolice alheia e para instituições religiosas de modo geral.

Não usar o santo nome de Deus em vão. Nunca o segundo mandamento foi tão esquecido, independentemente daqueles que focam suas crenças em Deus, Alá, Buda, no criacionismo, na teoria da evolução etc. e tal, se o exercício da fé é bom, melhor é cultivar a espiritualidade sem manipulações ou histeria coletiva. Me dá pena ver a carência de muitos sendo usada como massa de mabobra em prol de interesses nada elevados. Gente querendo me convencer de que o seu Deus é melhor que o meu, isso então eu não tolero. Rezo todos os dias e não encho o saco de ninguém, não venham encher o meu.

Fato é que tenho me apercebido realmente muito distante da igreja católica, já não a tenho em melhor conta do que os insuportavelmente chatos e hipócritas evangélicos. Não sei se a minha fé algum dia se abalará, nem pretendo discutir religião a fundo, trata-se de mero desabafo. Acreditem, tive uma epifania e vi o caminho da luz, no que você crê importa muito menos do que quem você é.

E agora chega disso e a beber meninos, que hoje é sexta-feira.

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