sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A vision


Bloke in blue as seen in Picadilly line, Russel Square Platform, London. A charming station opened since 1906 and that has some delightful old white and green tile.

Vestido de rei


“Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano”

Ah, o carnaval! Quanto tempo esperei por ti! Quantos planos, quantas expectativas, quanta ilusão!

Um dos sintomas mais claros de que o camarada está há muito tempo longe do próprio país, é que começa a valorizar coisas que antes nunca havia valorizado e se portar como o Brasileiro mais ufanista do planeta, do tipo que, se deixar, toma caipirinha com feijoada todo o dia, põe fotos da praia da infância na parede e coloca a bandeira nacional a tremular na varanda da casa. Comigo...não foi diferente.

Quatro longos anos sem carnaval, quatro longos anos sem escutar o rufar dos tambores, sem apreciar o molejo da mulata e sem brincar o carnaval. Perae, você nunca foi disso? Cadê o roqueiro blasé que estava aqui? O exílio comeu.

A vida no exílio é mesmo estranha, parece que se está em suspensão dentro de uma bolha de plástico, em um universo paralelo, as noções de tempo e espaço se tornam relativas, enquanto a vida parece correr solta lá fora. Tem gente que acha que estar na Europa por estar é um grande barato, não é o meu caso.

Gradativamente percebi que minha personalidade se alterava, comecei a escutar discos de música brasileira e comentá-los entusiasticamente, a cozinhar pratos da terra natal até então ignorados e a defender o Brasil com unhas e dentes em qualquer oportunidade que se apresentasse, até tentei montar sem sucesso um grupo de samba, há! Tudo isso, é claro, em prol da manutenção da própria identidade.

Sendo assim, estava disposto a sentir o gostinho do carnaval carioca e descobrir o que era melhor, se o imaginário cultivado ao longo dos últimos anos ou o real. Só esperava que não fosse como no reveillón, quando bastaram 5 minutos na praia de Copacabana espremido que nem uma sardinha em lata, entre gente mal-educada e com um conceito de diversão bizarro, para que toda saudade que eu pudesse daquilo ter se evaporasse.

Mas, com todos os amigos casados e com filhos, desemparceirado e sem direito nem a cafuné de vó, é...a perspectiva de vagar como um outsider pela cidade em polvorosa na última hora não me parecia lá muito alentadora.

Aleluia! Eis que na prorrogação os ventos vindos do Recife me trazem uma grata surpresa e me surge Serginho pela frente. Para quem não sabe, Sérgio é irmão de Miguel, que morou comigo em Barcelona, ou seja, estava tudo resolvido e em família.

Rumei animadamente para encontrá-lo em Santa Teresa, esse verdadeiro woodstock carioca, despido de preconceitos e disposto a farrear como se deve. E farreei.

Nem remotamente pensei que pudesse me divertir tanto no carnaval; a cidade se fez pequena enquanto corria de um lado pro outro com disposição de menino. Encontrando velhos e novos amigos numa espiral vertiginosa de informações e sensações. É, certo está mesmo o filósofo Cezar Moreira, o carnaval é a perda dos medos. No meu caso pode-se traduzir como: sair da inércia.

Confesso que realmente me surpreendi, mesmo nos blocos mais cheios a atmosfera era de confraternização, a disposição era de se divertir e o resultado foi de encher os olhos. Foi bonito pacas!

Agora, a chave de ouro foi mesmo desfilar na Sapucaí pelo Jacarezinho na ala dos marinheiros, que coisa linda foi o desfile e como funcionou bem o samba, o público vibrava e me levava junto.

Na avenida, uma imensa alegria me invadiu, essa certeza de que o melhor lugar do mundo realmente é aqui, que cidade generosa continua a ser o meu Rio de Janeiro.

Assim que: abram alas, batam palmas, alegria, o bom filho à casa tornou!

“Tira o dedo do pudim
Que grande sociedade
A nostalgia só me traz felicidade”

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Our Heroes


The cool Setzer knows how to play.

Like in the real old days...Give it to me!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Barba, cabelo e bigode


Sempre tive um fraco por lugares decadentes e sombrios, os acho simplesmente irresistíveis, charmosos, com um encanto todo próprio e principalmente dotados de uma singular personalidade que parece dizer baixinho ao pé do ouvido, decifra-me ou te devoro.

Quando em Barcelona, era sempre o primeiro a desviar o grupo para descobrir mais um recanto adormecido no meio do Bairro Gótico, onde as ruas parecem estar cansadas de luz. Metia-me feliz por vielas estreitas como um fugitivo em busca de refúgio, no meu caso na esperança de encontrar algum bar abandonado pelo tempo, um portal que me conduzisse a outra dimensão e me possibilitasse o convívio com seres fantásticos e extraordinários.

Recordo que numa dessas andanças pela antiga e ainda preservada área de La Ribera (que hoje em dia faz parte do moderno e fashion Born) descobri o Mundial Bar, um lugar que parece estar cristalizado na Plaça Sant Agustí Vell número 1 desde tempos imemoriais. Ali, entre paredes estampadas com velhas fotos de lutadores de boxe e um balcão de mármore onde ressoam confidências dos tempos de antanho, podia-se tomar um bom vermute e desfrutar de frutos do mar preparados sem “perfumaria”, uma atividade simples e elegante que me preenchia a alma em tardes sem sol.

E foi assim que, embora sempre perambulando em busca do autêntico e do não óbvio, acabei inadvertidamente elegendo como barbeiro oficial em Barcelona um lugar, sem sombra de dúvidas, pouco ortodoxo.

O Raval também é um dos bairros mais antigos de Barcelona e, assim como o Born, cresceu fora dos limites impostos pelas muralhas da cidade medieval, o atual Bairro Gótico.

Em 1800 a maior parte do Raval era constituída por pequenas chácaras e contava com apenas alguns poucos edifícos que remontavam à época medieval, alguns dos quais permanecem em pé até hoje.

Após a revolução industrial, no século XIX, muitas fábricas texteis começaram a surgir e com elas vieram imigrantes das mais variadas partes do mundo, dando início a uma característica que até hoje permanece intocada e que é a principal característica e graça do bairro, sua multiculturalidade.

Quando cheguei em Barcelona, no final de 2004, o Raval já havia passado por importantes transformações urbanísticas e não lembrava em quase nada o gueto ao qual os mais velhos ainda se referiam com respeito e temor.

Isto porque, antes dos jogos Olímpicos de 92, o Raval também era conhecido como o Barrio Chino (uma referência a conflituosa Chinatown em São Francisco), e possuia verdadeiramente uma fauna e uma ambience dignas das melhores letras de Lou Reed, um cenário cheio de prostitutas, drogas, vagabundos e ladrões de rua, e que deram a ele a fama de ser a face mais canalha de Barcelona.

Apesar das transformações impostas ao bairro em anos recentes, na vâ tentativa de integrá-lo à urbe, não me desapontei em absoluto e prontamente me pus a decifrar seus recantos mais recônditos para descobrir resquícios dos tempos passados, e, afortunadamente, não precisei ir muito longe.

A sensação que se tem ao pisar no Raval hoje em dia, sobretudo na área que eu denomino de Baixo Raval (não confundir com a nossa nomenclatura associada ao Baixo Gávea e afins), e que vai da Carrer Hospital até os limites da Ronda Litoral, é de que se está em algum lugar do norte da África ou do oriente. Trata-se de um aglomerado de ruas sujas e estreitas, com varais estendidos diretamente sobre a rua a la Napoletana, coalhadas de vendinhas de trastes de todo tipo e cujos habitantes em sua maioria são Paquistaneses, Marroquinos, Filipinos ou Romenos.

Cortei cabelo a minha vida inteira com um português boquirroto que eu adorava e que se auto-vangloriava "eu sou o máximo, eu sou do caraxxx" enquanto metia a tesoura nas minhas madeixas (bons tempos aqueles) e que morrera pouco antes de eu me mudar para Espanha. Assim que, era natural o meu temor em guardar o segredo da minha virilidade a mãos estranhas em terras estrangeiras.

Não tive remédio, uma bela manhã me vi caminhando pela exótica Carrer de Sant Pau e tendo que me decidir entre uma das inúmeras barbearias capitaneadas por Paquistaneses, já que então não tinha dinheiro para frequentar qualquer cabelereiro de grife e pagar 60 euros por corte, tá maluco?!

Relutei, primeiro eu não entendo nada de Urdu ou Hindi e tinha medo de estar entrando em estabelecimentos do tipo 2 em 1 (me disseram que no oriente é comum as barbearias oferecerem mais do que simples cortes de cabelo, se é que você me entende), segundo, a cara dos barbeiros Paquistaneses metia medo, tinha até um que parecia saído direto de um filme de Ali Babá, com seu turbante Sikh e sua barba pontuda, "fudeu-se" como diria Migulino. Quando estava quase dando meia volta, notei um com uma cara um pouco mais normal e que de estranho mesmo só tinha o cabelo acaju, suspirei fundo e...entrei.

Seu nome era Salim, evidentemente Paquistanês, que entre mesuras e um ar muito circunspecto mas amável me fez uma bonita massagem capilar e cortou o meu cabelo de forma eficiente e sem frescuras. O resultado final, embora conservador, não comprometeu e fez com que, durante os 4 anos seguintes em Barcelona ele se transformasse no meu "personal hair stylist" e de quebra, me deu a oportunidade de servir como observador involuntário desse curioso extrato social.

Numa dessas tardes de Domingo fui cortar o cabelo com o Salim e levei Miguel a tiracolo. Quando chegamos, o "salão" estava a tope e não sobrou remédio a não ser sentar, esperar, tomar um gole de chá e nos deliciar com o seguinte diálogo travado entre a manicure local e outro barbeiro, ambos Bolivianos, e que era mais ou menos assim:


- Eles pagam bem?

- Muito, me disseram que dá até para ganhar 250 euros ao dia transando com três.

- Três por dia?

- Não, três juntos em cada vez.


Ah tá, nos entreolhamos Miguel e eu arregalando os olhos e segurando o riso, isso sim que é um negócio promissor.


- Três ao mesmo tempo, mas não é muita coisa?

- É nada, além do que eu tenho que comprar meu apartamento e a minha amiga disse que eles pagam direitinho, estou cansada dessa vida de manicure.

- E em quanto tempo você acha que dá para comprar o apartamento?

- Ah, eu calculo que em 1 ano e meio eu consiga.


Bem, eu não fiz os cálculos nem sei quantas sessões a roliça Boliviana pretendia fazer durante o dia para chegar aos seus objetivos, deixo isso aos senhores, mas me parece que em 1 ano e meio nesse ritmo talvez ela não esteja mais entre nós para usufruir do sonho da casa própria.
.
Miguel parecia não acreditar no que se passava ao seu redor e me dizia: - Mas isso é o submundo! Isso sim é que é underground! Eu não disse nada, já estava acostumado e inclusive achava aquilo ali uma oportunidade ímpar de ter contato com material humano dos mais ricos. Já Migulino, acostumado que estava aos cortes de tesoura com fio de diamante restritas ao mundo mais fashion de Barcelona viu-se de repente jogado naquela atmosfera surreal e o espanto era natural.

Falando nisso, bem ao lado da barbearia ficava a rua das meninas, jovens vindas da europa oriental e alguma outra africana em sua maioria e que sempre tinham uma palavra gentil e um sorriso triste a oferecer. De vez em quando eu cruzava com uma em especial, de aspecto Romeno e ainda bonita, que sempre mexia comigo com ar jocoso e dizia:

- Hola guapo, has venido a por mí, verdad?

Eu sorria e respondia: - Hoy no, he venido sólo a cortar el pelo pero mañana seguro.

Nunca soube o seu nome, nem sei se se continua por lá sorridente e solícita, o que eu sei é que desde que voltei ao Rio o mero ato de cortar cabelo perdeu completamente o seu encanto.

Talvez ninguém entenda, mas é por essas e por muitas outras que jamais haverá um lugar como o Raval, um lugar de inúmeros contrastes onde o cliente sempre pode escolher: O que vai ser hoje, Sr.? Barba, cabelo ...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

The influence of the refused

Some guys are bigger than others



Hay que envejecer pero sin perder la dignidad jamás! Não era isso o que Che Guevara dizia? Bem, não importa, o fato é que é duro mesmo envelhecer e eu cada vez me convenço mais disso, não me resta nem mais a idolatria aos mitos de outrora. Explico-me, houve um tempo, há muito tempo atrás, quando eu acreditava piamente que sim, ele era assexuado, que, arramm mais ou menos, ser celibatário era legal e que sem dúvidas, não havia ninguém sobre a Terra mais cool, influente e carismático do que the man himself.

E eis que hoje abro meu e-mail e recebo, via a baixista mais sexy do planeta, uma foto que me deixou boquiaberto.

Não, não, não, não se trata de falso moralismo, de pudores exacerbados ou de puritanismo da minha parte, é apenas a constatação tardia de que certas coisas não voltam mais.

Primeiro exitei, tive dúvidas, rezei para que fossem os Red Hot Chilli Peppers depois de uma estranha plástica ou de mais uma mudança de look. Mas não, aquela cara me é tão familiar (do resto graças a Deus até hoje eu havia sido poupado) e aquela expressão cultivada ao longo dos anos já virou parte indissociável de mim, assim que temi pelo pior.

Mas sim, era inevitável, depois de tantos anos na ativa os artistas tem que se reinventar, buscar estar na mídia e chamar a atenção das massas mas, convenhamos, é triste ver um grande ídolo chegar a esse ponto e ele nunca precisou disso.

Estou falando do cinquentão aí acima, Stephen Patrick Morrissey, natural de Manchester, Inglaterra, o cara que me fez companhia durante boa parte da vida e que me ensinou o que era boa música, boa literatura e que a sugestão pode ser mais sedutora do que a revelação, sobretudo quando gratuita (deve ser por isso que eu gosto de mulheres de maiô).

A foto acima feita para divulgar material do seu último disco a ser lançado bremente "Years of refusal" mostra ele e banda quase como vieram ao mundo e ao contrário do que o título, típicamente Morrisseiano, possa indicar, ninguém foi mais cultuado ao longo da carreira do que ele, assim que Why, Steve, why?

Olhei por sobre o meu ombro e tive saudades dos meus 15 anos.

singing...at the record company meeting, on their hands a dead star...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Speedway



I never said they were completed unfounded...
 

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