Sou um sujeito influenciável, quanto a isso não há a menor dúvida. Tampouco há problema, gosto dessa minha característica porque me permite agir de impulso e eventualmente conhecer lugares que talvez acabasse não conhecendo.
Semana passada, dando uma olhada pela internet, acabei indo parar em um site sobre a Lapa que recomendava uma série de botecos históricos e cheios de ambiance. Torci o nariz para alguns reconhecendo a excelência de outros, o fato é que na Lapa de hoje é preciso ter atenção para não comprar gato por lebre, uma vez que o local está mais para cidade cenográfica do que para o bairro decadente e saudavelmente boêmio de outros tempos, cuja fama persiste até hoje.
Com a partida das putas velhas e o fechamento de boa parte dos muquifos, a Lapa perdeu muito da sua graça e passou a abrigar bares que emulam, em minha opinião, a visão que os paulistanos têm da nossa boemia quando tentam reproduzir a aura dos nossos botequins. Nada contra os “botecos cariocas” de São Paulo, mas me parece um contra senso, estando na Lapa, imitar aqueles que nos imitam, e logo de forma tão asséptica.
E por falar em Paulista, enquanto dava uma olhada no site um dos bares recomendados me chamou a atenção, um bar que eu não conhecia, um bar chamado A Paulistinha.
Não pensei duas vezes, desci do escritório imediatamente e comecei a caminhar decidido, para almoçar como Deus manda e provar um dos melhores chopps da cidade, naquele tradicional reduto de bambas cantado em prosa e verso.
O A Paulistinha tem uma coisa a seu favor, não está na zona do burburinho próximo aos arcos, está localizado na Av. Gonçalves Freire, 27, mais ou menos detrás da Praça Tiradentes, portanto na fronteira com o centro velho da cidade, região que ainda preserva, sem maquiagem, o charme de outros tempos.
Da Cinelândia até lá era uma boa caminhada, mas eu ando rápido e cheguei lá num instante, enquanto admirava a beleza daquela região meio abandonada e que merecia um tratamento condizente com a sua importância.
Entretanto, devo confessar que todo o cenário que eu havia criado na minha cabeça se desfez de imediato ao chegar no local. O bar é, digamos, muito rústico. Na verdade, se parece muito com o botequim pé de chinelo que fica em frente da minha casa, que não possui qualquer atrativo e que é ponto de encontro de motoristas e fiscais de ônibus.
Se fosse outra ocasião eu até me sentaria e provaria o tão afamado chopp, acompanhado de um tira-gosto para ver se a decepção inicial seria recompensada, mas como já tinha gasto parte da minha hora de almoço no trajeto até ali, decidi continuar andando até achar algo parecido com o que eu tinha em mente.
Aquela região ente a Tiradentes e o saara, tão desprezada pela maioria dos mortais é muito interessante, tem um conjunto arquitetônico que mesmo estando em péssimo estado continua bonito, isso sim, desde que se saiba enfocar o olhar.
Assim que, já cansado de andar acabei parando naquela agradável esquina da Rua Luis de Camões com Gonçalves Ledo e me sentando no Araponga, um simpático boteco situado em um casarão colonial onde comi um prosaico fígado acebolado que estava divino, acompanhando de forma curiosa o vai e vem de pessoas, e que redimiu a minha frustração inicial. Incrível como o Centro da cidade conserva tantas nuances e tantos microcosmos dentro das suas quatro linhas.
Não é preciso ir ao Fasano para se comer bem, nem tampouco ir muito longe para termos uma experiência que faça bem a alma. Às vezes, basta despir-nos dos preconceitos e aventurar-nos um pouquinho, despidos de escudos, para sermos recompensados. Não nos esqueçamos que a felicidade, no final das contas, é um estado de espírito.