terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Reflexiono: o que nos resta

Ultimamente vocês notaram que eu, de vez em quando, venho mudando o tom deste blog e acabo adotando uma postura algo revoltada com a situação desta minha cidade querida, que vem sendo reiteradamente vilipendiada e tratada de forma abjeta por aqueles que deveriam bem representá-la.

A verdade é que já faz muito tempo que o Rio cantado em prosa e verso não existe mais, o barquinho de João Gilberto naufragou na lama que nos cobriu. Quando eu era pequeno era ainda uma lembrança próxima, podia-se sentir no ar o perfume de outros tempos. Hoje em dia, imaginar o glamour da Copacabana dos cinqüenta, a Ipanema romântica dos sessenta ou a elegância do Centro nos idos de trinta é tarefa que mais do que nostalgia só provoca tristeza ao se constatar o longo caminho ladeira abaixo imposto ao Rio de Janeiro e que parece estar longe de terminar.

Vou aqui tecendo esses superficiais comentários não porque cheguei outro dia da Europa e me desacostumei com a situação aqui em terras tupiniquins. O que me exaspera é reconhecer a nossa indolência, a nossa passividade diante dos fatos gravíssimos que estão ocorrendo nesta cidade sem uma reação efetiva da sua sociedade, senão vejamos:

Ontem suspeita de bomba no prédio da IBM em Botafogo, interditando a Av. Pasteur. Hoje, apenas hoje, duas bombas explodiram em plena luz do dia, uma na Borges de Medeiros na Lagoa e outra na Av. Atlântica durante uma perseguição policial a dois bandidos. Essa é a nossa realidade, agora bombas são o feijão com arroz dos nossos dias e eu que me considero um liberal me pego tendo pensamentos algo retrógrados e ansiando por uma intervenção federal, tal é o meu descrédito na corja imoral que faz essa política para inglês ver e nessa sociedade apática e desarticulada.

Poderia narrar aqui mais um ou dois fatos ocorridos hoje e que me enchem de vergonha mas não, me calo e vou para o bar beber o meu choppinho, que é isso o que sabemos fazer de melhor.

6 comentários:

ana k. disse...

ônibus incendiado na nossa senhora de copacabana, tráfico fechando comércio em plena luz dos dia, dois dias de tiroteio... resta pouco, resta pouco.

Babado e Gritaria! disse...

não se surpreenderá se você não voltar do casamento do miguel.

Dimitri BR disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dimitri BR disse...

rod, rod, não caia nessa. a situação é sinistra? com certeza. (sempre mais sinistra pra quem mora no morro do que pra quem mora embaixo, me parece. não que isso seja consolo. mas é bom lembrar, porque reside aí boa parte da lógica por trás da sinistrice da situação.)

mas veja: vale lembrar que o ônibus atacado e o fechamento do comércio, aos quais a ana k. se refere acima, eram supostas represálias à instauração de UPPs (unidades permanentes da polícia) no pavão e no cantagalo.

aqui na real grandeza moramos vizinhos ao santa marta, onde a primeira (creio) dessas foi instalada, e já funciona há vários meses.

e quando eu digo "funciona", não quero dizer apenas "opera": a área DE FATO ficou mais segura, e os moradores, em sua maioria parecem apoiar a iniciativa.

e não é pra menos: junto com a ocupação policial, foram instalados no local vários serviçoes para atender à comunidade, entre permanentes e temporários, entre cursos, acesso à internet e serviços públicos em geral.

e é NESSA segunda "ocupação", mais que a primeira, que acredito estar a semente de uma estabilidade mais duradoura na cidade partida.

a ocupação do espaço público pela população - por nós - e a ampliação do atendimento do Estado às comunidades ora dele privadas são saídas reais para um problema real.

não são fáceis. não são a curto prazo. mas o pânico pelo pânico só favorece aos vendedores de carro blindado.

4 de Dezembro de 2009 07:41

bloke in blue disse...

Caro Dimi, não se trata de pânico pelo pânico. Certamente o Dona Marta e região devem estar mais tranquilos atualmente. No entanto, continuo cético com relação a essas ações no longo prazo, já que, salvo melhor juízo, o que está havendo é uma mera transferência do problema para outras áreas menos nobres e favorecidas da cidade, tendo em vista os eventos de grande parte que iremos sediar.

O fato é que, apesar da limpeza, não há uma visão sistêmica do problema e o refluxo, mais dia menos dia, será inevitável nesta cidade que, como você bem disse, continua partida.

Aguardemos pois pela continuidade da Pax Carioca, e também pela saúde, o bem pensar e o feijão com arroz tão necessário para a sua manutenção.

bloke in blue disse...

E, finalmente, concluimos com Obama, por ocasião do seu discurso ao receber o Nobel da Paz:

(...)"É sem dúvida verdade que o desenvolvimento raramente se enraíza sem segurança; também é verdade que a segurança não existe onde seres humanos não têm acesso a comida suficiente, água potável, ou aos medicamentos que precisam para sobreviver. Ela não existe onde crianças não podem sonhar com uma educação decente ou um trabalho que dê sustento a sua família. A falta de esperança pode deteriorar uma sociedade de dentro" (...)

clap clap clap

 

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