segunda-feira, 8 de março de 2010

is music non stop


A música pop anda muito chata, talvez seja o olhar da maturidade que torna tudo mais severo ou talvez o formato esteja mesmo se esgotando, entre pretensões e fórmulas batidas.


Quando eu era moleque a estória era outra, havia bandas com as quais valia à pena se identificar e pelas quais suspirar, morrer e lutar. The Cure, Echo & The Bunnymen, The Smiths, Stone Roses, Housemartins, The Fall, New Order, Jesus and Mary Chain, para citar apenas algumas das que salvaram a minha vida e moldaram o meu caráter, era uma época sensacional para crescer.


Recentemente, voltei a tentar me situar e comecei a escutar coisas mais atuais (já não era sem tempo), para que não me acusem de ser um dinossauro saudosista.


Foi com esse espírito que conheci “a nova salvação de Manchester”, The Courteeners.


Os Courteeners giram em torno de sua figura principal, o excelente vocalista Liam Fray, um rapaz de dicção límpida que, por sua arrogância natural e pela falta de papas na língua, na ausência de um outro certo Liam, já virou um dos darlings da imprensa Britânica. Até a figura mais icônica de Manchester, Morrissey, saiu em defesa dos meninos para declarar: “Every song was very strong and full of hooks and full of dynamics … they actually do have very good, strong songs”.


Eu, entretanto, confesso que a audição do primeiro disco, St. Jude, de 2008, não me emocionou. Tudo soava raso e comum e achei que eles haviam batido na trave e ficado na intenção, afinal de contas ser de Manchester não basta, há que se honrar a tradição local.


Com o segundo disco, Falcon, lançado e adquirido recentemente, a coisa é diferente. Desde a poderosa faixa de abertura, apropriadamente entitulada The Opener, se nota que estamos diante de um clássico instantâneo que, sim, é verdade, bebe da fonte Morrisseiana no adorável arfar dos vocais e no tema lírico (uma declaração de amor à Manchester e possivelmente à mulher amada), mas não perde a personalidade.


O disco prossegue com outra música que não nega o débito ao legado dos ídolos locais, Take Over the World, misto de carta de intenções e grito de guerra que dá vontade de chorar de tão bonita, com suas montanhas e loops de reverbe que nos afundam confortavelmente no sofá, simplesmente arrebatadora.


Nem tudo no entanto soa como os ídolos de antanho, You Overdid it Doll é o single dançante e cheio de swingue, com refrão pegadiço: I load it I shoot it like a Tommy gun / You'll carry on until you're dead and will drop / You never know when to stop / For you will carry on until the day you are done, para ninguém botar defeito e se acabar na pista e Cross my heart & hope to fly é climática e pungente ao seu próprio modo.

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No meio da audição ainda tem Sycophant, vigorosa e emocionada, do jeito que eu gosto e com reflexos de Adorable, ou seria Stiff Little Fingers? Ah rapaz, não importa, dispa-se dos preconceitos e ouça com vontade. Para sair assoviando, reenergizado e feliz da vida pela rua.


No geral, Falcon é um disco que, com sua formação básica e mesmo sem lançar luzes sobre novos caminhos, é deliciosamente esplêndido de se escutar e traz aquela sensação de bem estar que mesmo nos momentos menos inspirados persiste e contagia.


O falcão alça vôo, leva os Courteeners a um novo patamar e eu me alegro, afinal de contas, enquanto os próximos redentores da música pop não aparecem, mais vale um pássaro na mão do que dois voando.

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