quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Os tempos estão mudando


‘Come mothers and fathers

Throughout the land

And don't criticize

What you can't understand

Your sons and your daughters

Are beyond your command

Your old road is

Rapidly agin'.

Please get out of the new one

If you can't lend your hand

For the times they are a-changin'.


Isso cantava o gasguita do Dylan, nos idos dos anos sessenta; outro dia, sem que eu me desse conta, essa canção me veio à cabeça enquanto escutava um amigo na hora do almoço.

Me comentava que um antigo flerte seu havia mudado, que agora lutava boxe e que rumores maldosos pairavam sobre a mudança de estilo da jovem boxeadora em questão.

Eu a havia conhecido pouco antes de empreender a grande viagem e me lembrava que era uma menina bonita, não que fosse o meu estilo, em absoluto. Portava certo ar burguês, demasiado bem nascida talvez e sem a maldade requerida provavelmente, mas tampouco se pode negar que não tivesse lá a sua graça (para olhos juvenis, bem entendido).

Pois bem, ao que parece ela mesma se deu conta de que lhe faltava um ‘petit peu de sel’ e resolveu correr atrás de reverter esse quadro com a ajuda de seus punhos. O fato é que meu amigo, que costuma ser mais blasé do que a injusta fama que persegue este narrador aqui, embora não quisesse demonstrar, parecia estar preocupado.

Eu já não me surpreendo com quase nada nessa vida e bem sei que, ultimamente, ser ou não ser já não é uma grande questão. Entretanto, confesso que toda vez que me deparo diante de tal possibilidade fico amuado, de certo até, um pouco triste. É como reconhecer a torpeza e a decadência da nossa classe que, devido a tantos e tão reiterados maus hábitos, permite a fuga em massa desses seres ao lado escuro -ou seria terno - da força.

Voltando ao boxe... Anteontem quando saía do escritório no fim do dia acabei por dar de cara com meu amigo a conversar justamente com a famosa boxeadora. Ele, ao ver-me, soltou aquele seu típico sorriso de canto de boca, algo cínico, como se esperasse algum comentário malicioso ou sarcástico de minha parte, mas eu estava tão cansado que não tive tempo de incorporar o personagem e desempenhar o papel requerido.

Notável a mudança da ‘boxeuse’, havia encorpado sensivelmente e cultivado uma postura altiva e segura bem diferente da primeira e única vez que eu a havia visto. Cumprimentei o casal e fui novamente apresentado a ela que esboçou um sorriso protocolar. Ainda era cedo e o papo curiosamente engrenou, para não ficarmos em pé conversando decidimos ir a um bar próximo para tomar um café.

Eu costumo ter olho clínico para essas coisas, mas contive o espírito crítico para apreciar o fim de tarde entre amigos de forma distendida e relaxada. E a conversa fluía bem, entre outras coisas soube que a sua luva de boxe era cor de rosa, que gracinha. Olhei para meu amigo com um olhar que parecia dizer: Há esperança! E prontamente a imaginei num modelito Londsdale ‘ton sur ton’ desenhando golpes no ar num velho ginásio e cantando: Losing in front of your home town, the crowd call your name, they love you all the same. The sound, the smell, and the spray, you will take them all away and they’ll stay till the grave… (é bastante óbvio, eu sei, mas não pude evitar ).


Tudo ia muito bem, até escutar da nossa pugilista que o último de seus admiradores (com o qual ela estava saindo e acabara de romper) era um babaca. Motivo? Havia enviado mensagens após a primeira saída agradecendo a noite, lhe dedicava demasiada atenção, era muito gentil. Que sujeito mais mole, frouxo, babão... Os homens hoje em dia estão muito carentes! – dizia com cara de nojo.

- E ainda bem que não houve tempo para mandar flores - pensei.

- Suspiro - Não sei, realmente não sei qual o nosso papel na sociedade atual, é certo que relacionar-se parece estar cada vez mais complicado, mas não me parece justo com o rapaz objeto dos adjetivos acima censurá-lo por ter bons modos e ser cortês.

Senti que a veia crítica ameaçava estourar (não podia ser a cafeína, meu café não era expresso). Como assim? Quando atuamos como os selvagens que sempre fomos, sendo machistas, coçando o saco, peidando, arrotando e escaneando tetas e bundas com olhares sôfregos e lascivos somos uns bárbaros, uns brutos, sem a menor chance de roçar a orla do seu manto (ou o que quer que seja). E ai de ti, mortal, se além de tudo não gostares de samba ou se não freqüentares a Lapa!

O que fazer? Ah, sempre se pode ser cavalheiro, atuar à moda antiga e tratar uma mulher com atenção e gentileza, declarando o seu interesse de forma clara, fazendo o tipo fiel e de repente, quem sabe até, dedicar-lhe poemas. Isso sim, não há garantias de que você não vire objeto de piadas no círculo de amizades da pretendida, nem que esta prefira um cafajeste à sua pose de dândi pós-moderno.

O fato é que achei o comentário superficial e equivocado, embora ambas as partes, a sensível - Jackyll e a animalesca - Hyde, parecessem nesse momento tentar fundir-se e encontrar um modus operandi que permitisse a subsistência nos tempos modernos.

Se ela era fancha? Não sei, o fato é que depois do café pedimos um par a mais de cervejas, os ânimos serenaram e ficamos de nos encontrar mais vezes.

Na verdade ela me convidou para ir ao Maraca no próximo Domingo, ver Flamengo e Goiás, e depois tomar um rabo de galo em qualquer quebrada. Torcedor fanático que sou aceitei. Isso sim, a pegarei em casa e pagarei o táxi, as entradas e as biritas, ‘comme il faut’.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A Charneca

Enquanto a inspiração hesita, os deixo nas mãos de um dos maiores observadores sociais e cronistas cariocas de todos os tempos, com vocês Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)!
Então, na esperança vã de me livrar do tormento de amar-te, adormeci um pouco. E se digo vã, amor, é porque logo fiquei a sonhar contigo, a te dizer quanto vai em mim de amor, doce, terno, perdido amor às vezes; candente, nervoso, incontido amor, tantas vezes.
Oh os sonhos de amor, querida! Nele eras tão outra, tão Julieta, tão Isolda, tão Marília. E eu tão o Romeu do segundo ato, tão o Tristão da primeira ária, tão o Dirceu de antes do desterro!
Vinhas lentamente para os meus braços ansiosos, terna e eterna, simples e definitiva, como o barco que parte para o naufrágio. Tu, mulher que já caminhavas para mim, antes mesmo do dia em que te conheci. Para mim, que vivia na certeza de que de algum lugar virias, imponderável, como soem ser os destinos do amor.
No sonho, sorríamos, no sonho éramos nós dois para sempre e um dia. Tu, esquecida de tantas ingratidões, eras o mais puro dos pecados. Eu, vivendo o momento em que o homem prova a si mesmo ter um pouco de eternidade, olvidava antigos dissabores, as noites sofridas, as lágrimas caídas, a dor.
E tão glorioso fiquei, que em mim couberam todas as glórias, abateram-se sobre minha cabeça todos os hinos, e se Beethoven eu fosse, passaria, num átimo, da "Patética" à "Heróica". Que incontida alegria! Desprendí-me de ti e saí a correr pela charneca.
Na verdade eu nem sei o que é charneca, mas isto fica bacana pra burro, em romance inglês.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Pin-up da semana


A maravilha acima é criação de Patrick Hitte, artista contemporâneo francês que tem um traço realmente impressionante, suas pin-ups misturam modernidade com o ar típico da fase clássica do gênero. É hoje em dia o artista de pin-ups de que mais gosto, e agora se vocês me dão licença vou tomar um copo d'água.

10 U.S. Rock Essentials

Seguimos com as listinhas, aqui vai a seleção pessoal e obrigatória de 10 dos melhores discos já produzidos na terra do Tio Obama que devem estar em qualquer coleção que se presa, ou ao menos isso é o que eu acho.
Quando eles querem sai muita coisa boa, inclusive divisores de água do porte de um Velvet & Nico, passando pela ferocidade e crueza de Johnny Cash mostrando toda a sua personalidade em grande momento como quase fora da lei, até a síntese do proto-punk por excelência com toda a urgência das minhas bonecas favoritas, os New York Dolls.
Hey, ho, let's listen to it.
1- Elvis Presley (1956) – Elvis Presley
2 - At San Quentin – Johnny Cash
3 - Pet Sounds – The Beach Boys
4 - The Velvet Underground & Nico – The Velvet Underground
5 - New York Dolls – New York Dolls
6 - Transformer – Lou Reed
7 - The Idiot – Iggy Pop
8 - Daydream Nation – Sonic Youth
9 - Pinkerton – Weezer
10 - Doolittle – Pixies

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

El maestro

A importância de Gustavo Rodriguez Quintal para o mundo ainda está por ser descoberta, Mexicano, engenheiro, escritor, poeta, filósofo, professor, cozinheiro de primeira e eventual amante latino de alguma européia mais descuidada, Gustavo sempre jogou nas onze com desenvoltura de profissional e alma de menino. Instituição da mais nobre estirpe, pertencente à Santíssima Trindade Catalã.

Como não lembrar dos inúmeros Sábados e Domingos passados na cozinha elaborando pratos a quatro mãos? Ali, entre garrafas de vinho (muitas) e nossa inspiração, passávamos o dia inteiro cozinhando, praticamente sentados ao lado do fogão, dando asas à nossa criatividade e brindando à amizade, ao reencontro que o exílio nos proporcionara e, invariavelmente, rindo muito.

É engraçado falar em reencontro considerando que eu não o conhecia antes de chegar a Barcelona e nem ele a mim, no entanto, bastou pouco tempo de convívio para sanar esse verdadeiro equívoco e para termos certeza de que apenas havíamos estado distante um do outro fisicamente, espiritualmente não há dúvidas de que sempre estivemos muito próximos.

Desde que começamos a cozinhar juntos é fato que o meu colesterol subiu uma barbaridade, mas também, como resistir às delícias da cozinha Mexicana já no café da manhã? Apenas para que vocês tenham uma pálida idéia em que consistiam os nossos “desayunos light” aqui vai uma lista básica: fatias de pepino com salsa Valentina (molho Mexicano delicioso e super picante), tlacoyos (tortilha oval sobre a qual se põe cebola, nopales, feijão preto, ovos, queijo e chile), e gorditas de chicharrón (tortilha de milho dentro da qual se coloca torresmo – o chicharrón - frito e prensado com mole, queijo, cebola e, oh supresa, muito chile).

Recordo que tal era o seu amor pela cozinha, que só ele, apenas ele e mais ninguém seria capaz de ter feito o que fez para tentar conquistar uma moça ao ir buscá-la no trabalho tarde da noite munido somente de sua valentia Mexicana e de uma torta gigante para impressioná-la. Ao que parece, a beldade não só se alimentou, como ainda sucumbiu, provou e gostou. Ah, realmente a comida é um dos maiores prazeres que se deve compartir.

Lembro-me ainda de uma tarde passada na Champañeria, verdadeiro pé sujo Ibérico onde podíamos nos embebedar de champanhe barato à vontade e comer tapas a um preço para lá de acessível. Nossa intenção era chegar até a praia, mas, minha alma boêmia redirecionou o nosso curso sob o pretexto de que tinha fome e precisava comer algo. Gustavo como amigo generoso que é e conhecedor da minha natureza foi solidário e não recusou o convite.

Passada meia hora, já totalmente ébrios e secando a terceira garrafa, Gustavo, escorado numa pilastra totalmente sem equilíbrio, começa inadvertidamente a derramar champanhe nos pés de todos à nossa volta que, sem entender nada, se mostram incomodados e algo irritados. Que pasa, tío! – Exclama um dos batizados. Ao que Gus prontamente responde com seu semblante “Mejicanote” inalterado – Tranquilo chaval, es para dar buena fortuna, pá que te vaya bien! Pronto, em um minuto o chão do bar virou um verdadeiro mar de champanhe, com todos animadamente desejando boa sorte uns aos outros e derramando seus copos com entusiasmo nos pés alheios uma e outra vez.

Tratei de pegá-lo pelo braço e sair dali correndo o mais rápido possível antes que a situação degringolasse de vez e fomos cambaleando rumo à praia. Entretanto, não era tarefa fácil avançar, além de o Gustavo estar completamente bêbado (e eu não menos), lhe veio uma veia lírica e começou a atacar todas as lolitas imprudentes que cruzavam o nosso passo, declamando de forma apaixonada seus poemas, que iam mais ou menos assim:

Te busco en el armário del olvido
Bajo una penumbra huidiza de un cocotero triste
Me miras, te miro,
Doy besos de telaraña
Y recuerdo abrazos que traigo atrapados entre la memória y el deseo...

Há há, ao menos essa é a minha paródia dos seus versos que, ao contrário, são merecedores da boa leitura. Enfim, chegamos à praia já no final da tarde e desmaiamos durante umas boas três horas, quando acordamos nos pusemos de gatinhas a procurar os seus óculos que haviam desaparecido sob a areia e tivemos que encarar uma ressaca que seguia firme em nossas cabeças.

Na minha última semana em Barcelona ele me ofereceu um jantar de despedidas e ficamos ali, esperando que o tempo se detivesse e que fosse apenas mais um dentre tantos encontros gastronômicos passados juntos. Já não éramos três, éramos dois e em breve seríamos cada um por si até que o acaso seja generoso com amigos que se querem tão bem e que merecem estar sempre juntos. A importância de Gustavo para o mundo é que pessoas assim são muito raras e a sua sensibilidade, sua simplicidade e o seu abraço, além de tornarem o mundo menos frio e a vida menos chata, fazem sempre muita falta. Hasta pronto maestro!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Pin-up da semana


Archie Dickens (1907-2004) cursou a Slade School of Art em Londres e se tornou um artista free-lancer durante a década de 30 quando as pin-ups estavam começando a se tornar moda.

Imigrou para a Nova Zelândia ao final da década e trabalhou para uma agência de publicidade. Foi exatamente lá onde pintou suas primeiras pin-ups. Após o início da segunda grande guerra, Archie rumou para a Austrália e foi contratado por um moderno estúdio em Sydney. Logo suas pin-ups começaram a se tornar populares (é fácil entender porque, não é?).

Ao final da guerra casou-se com uma Australiana e voltou para Londres onde começou a produzir pin-ups picantes – sem nunca serem vulgares – por primeira vez.

Um Inglês da velha escola, a paixão de Dickens por adoráveis jovens inocentes em situações não tão inocentes tem entusiasmado fans por várias décadas. Rostos angelicais com aura diabólica, uma marca registrada desse grande ilustrador.

É...esse Dickens sabia das coisas. Bang, bang, I’m in love!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Mens sana in corpore sano?

Ser um “madurito interesante” como se auto-definia meu ex-chefe Pepe, requer trabalho árduo, disciplina e, porque não, ajuda de gente especialista no assunto, alguém que possa desvendar tais mistérios e servir como consultor externo e de norte nesses tempos obscuros. Foi assim que, inspirado por esse desejo, e por sugestão de meu compadre Fábio, acabei por comprar um exemplar da Men’s Health!

Quem tem me acompanhado desde que cheguei sabe que mudei consideravelmente meus hábitos alimentares e, principalmente, etílicos (com exceção para o último Sábado onde voltei a pecar, mas enfim...). Na verdade, estou bastante satisfeito com os efeitos dos ares cariocas sobre minha velha e alquebrada carcaça, só o fato de ter deixado de fumar já foi uma conquista e tanto, mas ontem, antes de dormir, senti que algo me faltava, o peito estava oprimido, necessitava de aconselhamento espiritual e foi assim que passei na banca da esquina mais próxima e comprei a dita revista.

Realmente interessante, não se pode negar que a Men’s Health é escrita por e para homens, o texto jovem e moderno (?) está cheio de gírias bacanas (não, bacana não é uma delas), tipo papo de bar e, delírio dos delírios, bar paulista, onde chaveco, pirar e balada dentre outras preciosidades são destiladas de forma próxima como se você estivesse falando com o seu melhor brother, meu! Me identifiquei de cara, além do que, descobri como paquerar, os 5 passos para ter êxito na cama, como me comportar no primeiro oi, no primeiro telefonema, no primeiro encontro, na primeira transa e na primeira manhã, UFA! E ainda que se sigo bebendo Gim Tônica elas vão achar que eu sou arrogante e ambicioso. Não é revelador?

E eu que pensava apenas em como perder a pança, em como tonificar mais a carroceria e talvez até descobrir alguma técnica para melhorar a minha performance na pista, acabei dando de cara com algo ao qual, nós machos, fomos privados ao longo de toda a nossa vida, uma Capricho só para nós :)!! E ainda por cima disfarçada de revista para consumo e deleite da chamada geração saúde, ó glória suprema! Já não seremos discriminados nem ridicularizados por nossos pares, a fonte do conhecimento finalmente nos foi concedida!

Já me sinto preparado para o convívio social, capa de disco na barra do bar, copo na mão, desenvolto, a sedução personificada. E depois de beber, conversar e me demorar nos seus olhos poderei finalmente colocar em ação tudo aquilo o que aprendi, inclusive como acariciar mamilos – para colher os frutos sempre em dobro garante a Men’s Health (confesso que tenho medo, quem me conhece sabe que eu dirijo muito mal e a técnica em questão envolve manobras complexas tais como: comece suave, dobre a atenção, não acelere ainda, cuidado com a curva etc. e tal). Meu amigo, se eu vislumbrasse um mamilo que fosse ao alcance de minhas mãos isso por si só já seria um achado, dois então seria como acertar na loto, o fato é que eles parecem estar cada vez mais tímidos nesses dias e é melhor eu correr que senão não malho hoje.

Até mais ver.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

This Is The One - review

O Homem de Azul é um ser compulsivo, principalmente em relação à música. De vez em quando aparece uma que o toma da cabeça aos pés como num transe e é executada à exaustão (para desespero dos vizinhos). Ultimamente, uma música em particular voltou a me causar tal reação – This Is The One – dos Stone Roses.

A música abre com um riff que já é uma verdadeira carta de intenções, garantia de que algo fantástico virá pela frente, prosseguindo com o fraseado melódico e classe característicos da assinatura de John Squire (este atrás apenas de Johnny Marr) acompanhada pelo delicioso baixo discreto e climático que serve de ponte ao início da letra.

Particularmente adoro a ambigüidade do primeiro verso, Ian Brown, com sua voz monocórdica e distante, displicentemente entoa “A girl consummed by fire”, quando na verdade parece dizer “A girl conceal her fire” para logo adiante seguir com “immerse me in your splendour” que mais uma vez soa como “he must be in your splendour”. Genial!

O título e a frase “A girl consummed by fire” se referem a imagens bíblicas, algo recorrente no canon dos Roses. Não seria estranho acreditar que Ian Brown se considerasse, de alguma forma, o messias. A música seguinte no mesmo disco "The Stone Roses" é, não por acaso, “I Am the Resurrection”. Aliás, sua fleuma e presunção sem limites e algo estudadas certamente serviram de inspiração para mais de uma banda inglesa, senão que nos diga Liam Gallagher.

A letra segue com o conto sobre “a garota em chamas” e a suposta desilusão do autor que gostaria de deixar o país por um mês de Domingos (que bela imagem, hein?!), sem não antes queimar Manchester (oh, my God!!), comparando-a na sequência respectivamente a uma heroína da mitologia Grega (bellona = deusa da guerra) e uma planta venenosa (belladonna). Ian mais uma vez trabalha como ninguém a ambivalência dos seus sentimentos em relação às mulheres, que vão do amor romântico à misogenia franca (humm, porque será?).

A melodia segue numa espiral de energia crescente, até o final sob a repetição do título, hipnótica, inebriante, catársica, arrepiante!

Antes do fecho, ainda sobra tempo para nosso herói considerar, ou rezar para que a relação com o objeto de desejo da sua amada não dê certo. Ah Ian, don’t you know...la donna è mobile qual piuma al vento. Bem-vindo ao clube.

A girl consumed by fire
We all know her desire
From the plans that she has made
I have her on a promise
Immerse me in your splendour
All the plans that I have made

This is the one
This is the one
This is the one
This is the one
This is the one
She’s waited for

This is the one
This is the one
This is the one
Oh this is the one
This is the one
She’s waited for

I’d like to leave the country
For a month of Sundays
Burn the town where I was born

If only she’d believe me
Bellona, belladonna
Burn me out or bring me home

And this is the one
This is the one
This is the one
This is the one
This is the one
She’s waited for

This is the one
This is the one
This is the one
Oh, this is the one
This is the one
I’ve waited for

Oh this is the one
Oh this is the one
This is the one
I’ve waited for

This is the one
Oh this is the one
Oh this is the one
This is the one
I’ve waited for

This is the one
This is the one
This is the one
Oh this is the one
This is the one
I’ve waited for

It may go right
But it might go wrong
This is the one
This is the one
She’s waited for

And this is the one
This is the one
This is the one
This is the one
She’s waited for

And this is the one
Oh this is the one
Ah this is the one
This is the one
I’ve waited for

Se alguém ainda duvida do poder da música pop basta escutá-la, isso sim, bem alto. This is the one!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

UK Top 10 Albums

Olá tot home,

Estava demorando, eu sei, eu sei, mas para que vocês não fiquem tristes aqui vai a primeira listinha de muitas, apenas, a dos melhores albúns imperdíveis de pop/rock Britânico de todos os tempos.

Escolha certa, sem erro, na mosca, para qualquer ocasião: aniversário, Natal, amigo oculto ou barmitsva (desde que o presenteado (a) seja dos meus, ou seja, that rocks!).

Apto para discussão, análise e reflexão deste assunto apaixonante, e que venham os tomates!!

1 - London Calling - The Clash
2 - The Stone Roses - The Stone Roses
3 - The Queen is Dead - The Smiths
4 - Closer - Joy Division
5 - My Aim is True - Elvis Costello
6 - Sticky Fingers - The Rolling Stones
7 - Sound Affects - The Jam
8 - Talking With The Taxman About Poetry - Billy Bragg
9 - The Slider - T.Rex
10 - Parklife - Blur

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Pin-up da semana




Começamos essa nova seção com uma clássica do grande artista Peter Driben. Driben foi talvez o mais prolífico "pin-up artist" dos anos 40-50, não se limitando apenas a revistas mas também trabalhando com publicidade e para Hollywood (seu trabalho mais conhecido é o poster e material promocional do Falcão Maltês).


Estudou na Sorbonne em Paris e colaborou com capas para diversas publicações entre as quais Snappy, Pep, New York Nights, French Night Life e Caprice.


Características marcantes do seu trabalho são o uso de cores fortes (normalmente, vermelho, amarelo, azul e verde), e o fato de que as poses das suas irresistíveis pin-ups são feitas para valorizar suas pernas kilométricas.


Como não sucumbir aos seus encantos? Eu não sei, além de azul sou um homem fraco...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Referências

O Homem de Azul está desbotando, melhor dizendo, está ficando velho. Nessa semana, modesto que sou, tenho apenas um pedido a fazer: quero envelhecer bem e talvez chegar perto das referências abaixo.




Quem não gostaria de ter:

a) O charme do Sean
b) A classe do Mastroianni
c) O estilo do Simonon
d) A pose do Weller




Entretanto, se não der, terei sempre o prazer de ser quem sou e isso sim merece um brinde. Este fim de semana tem 1...2...3... Gim Tônicas e muito mais!


Estejam convidados.



Cheers mates!
















sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Jail Guitar Birthday




Os violões acima foram especialmente customizados para a campanha “Jail Guitar Doors”, idealizada por Billy Bragg (outra vez esse nome?) e inspirado pela música de mesmo nome dos Clash (the only band that matters!), e que tem como fim a doação de instrumentos musicais para a reabilitação de presos Britânicos através da música.
O projeto não só capta o espírito dos Clash do ponto de vista ideológico mas vai além, associando todo o seu estilo e identidade visual. Iniciativa das melhores e, sem dúvida nenhuma, feita com muita atitude e muito charme. Bravo!

PS: Não se sintam tímidos, mas se não tiverem dinheiro para me dar uma dessas é só me mandar de volta para a Europa, dessa vez para uma cadeia inglesa, minha reintegração social estará garantida.
Clang, clang, Strangeways here we come!

http://www.jailguitardoors.org.uk/

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Um café com leite e dois donuts


Obama ganhou, phew! Inacreditável, histórico, surreal, me belisquem por favor! Sim, tudo isso e mais um pouco; um pouco mais de representatividade, um pouco mais de sensibilidade, um pouco mais de luz no fim do túnel e uma oportunidade de ouro para que essa sociedade (e com ela a parte do mundo que nos toca) possa mudar para melhor e construir relações mais humanas. Como mínimo a sua eleição representa um sopro de esperança, inclusive para a própria sociedade americana que, admitamos, nos surpreendeu; e será interessante ver alguém com um perfil tão diferente do tradicional technocrata ultraliberal no poder, só para variar um pouco.


Não espero com isso a redenção de todos os problemas da humanidade, muito pelo contrário, o cenário herdado é negro (sem trocadilhos) e o cara vai ter que rebolar que nem passista para botar a casa em ordem. Agora, que me surpreendeu muito a sua eleição isso não se discute, até o final desconfiei que a coisa poderia desandar. Quem diria que a sociedade WASP por excelência estaria preparada para eleger um presidente negro? Bem, nem tão negro assim, Obama está mais para um macchiato, um cappucino ou um cortado no máximo.


Praticamente um Sidney Poitier, com seus ternos bem desenhados, seus modos e seu look de galã afro-americano. Realmente o mulato tem classe, agora, como bem disse Arnaldo Jabor citado hoje por Anselmo Góis, está na hora desse Obama bronzeado mostrar seu valor.


Bote fé!
 

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