Chasse au Tigre (Caça à Onça) – Johann Moritz Rugendas – Da obra “Voyage Pittoresque au Brésil”
Mas, desarmado e sem ter como atravessar o rio, não me restava outra opção a não ser a de aguardar e esperar, o que fazer? Do meu lado uma imponente Sumaúma se erguia a 40 metros do solo. Lembrei-me que os índios utilizavam as reentrâncias das suas imensas raízes, verdadeiras “cabines”, como abrigo para dormir; reenconstando-se nestas e cobrindo-se com folhas de palmeira para não serem pegos de surpresa por predadores noturnos.
E foi aí, enquanto tentava fazer exatamente isso, que senti o impacto de um corpo contra o meu, como se houvera sido atropelado por um trem, e fui atirado a metros de distância. Ainda zonzo, sacudi a cabeça e tentei recobrar a consciência, as árvores dançavam na minha frente e no meio delas, dois faróis me observavam intensamente.
“O arco e a flecha são as armas principais dos índios. São muito mais compridos do que as de outros selvagens, embora a maior parte dos índios da América Meridional use também arcos e flechas muito compridos. A lança e o laço se encontram apenas em algumas tribos que, depois do descobrimento, adotaram o cavalo para combater. E somente nessas tribos foram os arcos e as flechas encurtados. O arco dos brasileiros tem muitas vezes cinco, seis e mesmo sete pés de cumprimento...Há três espécies de flecha. Uma de ponta larga, feita em geral de bambu tangaraçu; é dura e muito aguçada. Para aumentar ainda a força da penetração, a ponta é encerada e a taquara, também encerada ao fogo, torna-se tão dura quanto o chifre. Como na taquara a ponta é oca, os ferimentos que ela produz sangram fortemente. Por isso é empregada, principalmente, na guerra e na caça de grandes animais.”
Outro dia despertei sobressaltado, suando frio e com um nó na garganta, nos meus sonhos era atacado por uma onça. Não era uma onça qualquer, era um felino de considerável porte, meio mulher meio onça e que me perseguia sorrateiramente pelo meio da mata, como naquela lenda indígena da qual uma vez ouvi falar.
Essa lenda amazônica diz respeito a uma fera, cujo nome eu não me lembro, que é uma mistura de homem e onça e dizem que aparece de noite, como um caapora ou curupira, protegendo a floresta daqueles que a depredam e castigando-os sem dó nem piedade.
Deus sabe que nunca liguei muito para felinos de qualquer espécie, os gatos especialmente sempre me incomodaram com o seu elevado senso de independência, que faz com que cada um de seus gestos em nossa direção pareça a migalha de um aristocrata ofertada à plebe.
Além de não serem servis como os cães, o seu comportamento é uma miríade de sutilezas que requer aguçada disposição para interpretá-las. Como se não bastasse, mesmo quando recebem carinho, daqueles que se iludem crendo ser seus donos, jamais perdem a sua altivez e a fleuma.
Mas, no meu sonho, esse felino era diferente, possuía um estranho magnetismo e sedução que fazia com que, por mais que me embrenhasse na mata em fuga, tivesse a nítida sensação de que todos os caminhos me levavam até ele.
Outro dia despertei sobressaltado, suando frio e com um nó na garganta, nos meus sonhos era atacado por uma onça. Não era uma onça qualquer, era um felino de considerável porte, meio mulher meio onça e que me perseguia sorrateiramente pelo meio da mata, como naquela lenda indígena da qual uma vez ouvi falar.
Essa lenda amazônica diz respeito a uma fera, cujo nome eu não me lembro, que é uma mistura de homem e onça e dizem que aparece de noite, como um caapora ou curupira, protegendo a floresta daqueles que a depredam e castigando-os sem dó nem piedade.
Deus sabe que nunca liguei muito para felinos de qualquer espécie, os gatos especialmente sempre me incomodaram com o seu elevado senso de independência, que faz com que cada um de seus gestos em nossa direção pareça a migalha de um aristocrata ofertada à plebe.
Além de não serem servis como os cães, o seu comportamento é uma miríade de sutilezas que requer aguçada disposição para interpretá-las. Como se não bastasse, mesmo quando recebem carinho, daqueles que se iludem crendo ser seus donos, jamais perdem a sua altivez e a fleuma.
Mas, no meu sonho, esse felino era diferente, possuía um estranho magnetismo e sedução que fazia com que, por mais que me embrenhasse na mata em fuga, tivesse a nítida sensação de que todos os caminhos me levavam até ele.
Me sentia uma espécie de Antonio Proaño às avessas, a personagem principal da obra do escritor chileno Luis Sepúlveda – O velho que lia romances de amor.
No livro, Antonio é um homem velho e humilde, morador de El Idilio (um povoado perdido na região amazônica), profundo conhecedor da floresta, local onde se refugiou e aprendeu a sobreviver após a morte da sua esposa e que passa os seus dias a ler tristes romances de amor. Um certo dia começam a aparecer pessoas e animais mortos, atacados possivelmente por um predador, uma onça.
O povoado, entretanto, acredita que os responsáveis são os Shuar, tibo indígena que outrora havia ensinado a Antonio o gosto pela liberdade e o respeito pelos animais. E é Antonio quem, sozinho, após uma expedição mal conduzida pelo líder do povoado, esclarece o mistério, salvando a reputação da tribo e conseguindo abater o felino, embora lamentando-se da desigual luta que opôs um animal a um homem fortemente armado.
Digo às avessas porque aqui, por mais amuniciado que eu pudesse estar, sabia de antemão quem sairia vencedor dessa estória e quem seria abatido, eu não tinha a menor chance.
A cena que me despertara, quase me fazendo cair por duas vezes da cama, era a seguinte: Me via correndo de noite, na beira de um igarapé, sem ter como atravessá-lo e sentindo a real presença do predador às minhas costas. Ele no entanto não se aproximava, se detinha pacientemente, como se estivesse estudando meus movimentos, me analisando antes de dar o primeiro bote. O tempo passava e nada, a angústia era insuportável.
A cena que me despertara, quase me fazendo cair por duas vezes da cama, era a seguinte: Me via correndo de noite, na beira de um igarapé, sem ter como atravessá-lo e sentindo a real presença do predador às minhas costas. Ele no entanto não se aproximava, se detinha pacientemente, como se estivesse estudando meus movimentos, me analisando antes de dar o primeiro bote. O tempo passava e nada, a angústia era insuportável.
Mas, desarmado e sem ter como atravessar o rio, não me restava outra opção a não ser a de aguardar e esperar, o que fazer? Do meu lado uma imponente Sumaúma se erguia a 40 metros do solo. Lembrei-me que os índios utilizavam as reentrâncias das suas imensas raízes, verdadeiras “cabines”, como abrigo para dormir; reenconstando-se nestas e cobrindo-se com folhas de palmeira para não serem pegos de surpresa por predadores noturnos.
E foi aí, enquanto tentava fazer exatamente isso, que senti o impacto de um corpo contra o meu, como se houvera sido atropelado por um trem, e fui atirado a metros de distância. Ainda zonzo, sacudi a cabeça e tentei recobrar a consciência, as árvores dançavam na minha frente e no meio delas, dois faróis me observavam intensamente.
Nunca havia visto algo de tanta beleza, estava prestes a ser devorado e o medo já não existia, me apercebia apreciando os contornos do felino parado, ali, bem na minha frente e não lhe podia resistir.
A onça me fitava e ronronava baixinho, não era um rugido, um latido ou um urro, não era um balido, nem certamente um grito, era um canto melódico e apaixonado de um sentimento e de uma expressão profundos. Vagarosamente, veio se chegando e senti suas garras imobilizarem meu corpo, sua língua a deslizar pela parte interna das minhas pernas, subindo pelo ventre até parar e me encarar de frente. Nos meus delírios mais frenéticos, me sentia o próprio Batman na clássica cena em que a mulher gato seduz o homem morcego.
A onça se fazia meio gata, meio mulher, e possuía uma expressão enigmática. Seus olhos se prenderam aos meus por um segundo, e então ela continuou a me lamber vagarosamente, dessa vez indo até a minha mão e chupando meus dedos como se fosse um picolé.
A acaricio por alguns segundos, ela mordisca levemente o meu pulso. Uma onda de calor me invade o peito, e então, sem nenhum aviso ela dá meia volta e se vai, como se a medida de carinho já tivesse sido suficiente.
Raio de gata temperamental! - Exclamei, pulando da cama como se o mundo se acabasse e decepcionado por estar sozinho no quarto. Se aquilo era um pesadelo, por favor, quero sempre sofrer assim.
Alguns dizem que os sonhos nos trazem importantes mensagens e que devemos estar atentos a estes sinais e a influência que os mesmos têm em nossas vidas. Certamente há muito que aprender com certos felinos: ser intenso, mas sem abdicar da suavidade; mostrar-se sensual, mantendo certa reserva; comportar-se com altivez, mas desprezando os pedantismos. Mas e aí, será que é só isso?
Como me sinto incapaz de realizar esta tarefa sozinho e chegar às minhas próprias conclusões, já marquei hora hoje com a minha psicoterapeuta que, certamente, terá importantes subsídios a dar para a elucidação desse misterioso quebra-cabeças e me ajudará a livrar-me da minha dificuldade em lidar com certos felinos, que, desde então, parece só aumentar.
A onça me fitava e ronronava baixinho, não era um rugido, um latido ou um urro, não era um balido, nem certamente um grito, era um canto melódico e apaixonado de um sentimento e de uma expressão profundos. Vagarosamente, veio se chegando e senti suas garras imobilizarem meu corpo, sua língua a deslizar pela parte interna das minhas pernas, subindo pelo ventre até parar e me encarar de frente. Nos meus delírios mais frenéticos, me sentia o próprio Batman na clássica cena em que a mulher gato seduz o homem morcego.
A onça se fazia meio gata, meio mulher, e possuía uma expressão enigmática. Seus olhos se prenderam aos meus por um segundo, e então ela continuou a me lamber vagarosamente, dessa vez indo até a minha mão e chupando meus dedos como se fosse um picolé.
A acaricio por alguns segundos, ela mordisca levemente o meu pulso. Uma onda de calor me invade o peito, e então, sem nenhum aviso ela dá meia volta e se vai, como se a medida de carinho já tivesse sido suficiente.
Raio de gata temperamental! - Exclamei, pulando da cama como se o mundo se acabasse e decepcionado por estar sozinho no quarto. Se aquilo era um pesadelo, por favor, quero sempre sofrer assim.
Alguns dizem que os sonhos nos trazem importantes mensagens e que devemos estar atentos a estes sinais e a influência que os mesmos têm em nossas vidas. Certamente há muito que aprender com certos felinos: ser intenso, mas sem abdicar da suavidade; mostrar-se sensual, mantendo certa reserva; comportar-se com altivez, mas desprezando os pedantismos. Mas e aí, será que é só isso?
Como me sinto incapaz de realizar esta tarefa sozinho e chegar às minhas próprias conclusões, já marquei hora hoje com a minha psicoterapeuta que, certamente, terá importantes subsídios a dar para a elucidação desse misterioso quebra-cabeças e me ajudará a livrar-me da minha dificuldade em lidar com certos felinos, que, desde então, parece só aumentar.
6 comentários:
Aiiiiiii!
Assim que eu parar com essa risaiada tupiniquim (é um termo sãocarlense, tá?)eu volto pra comentar descentemente!
Bjs!
Rapaz, depois sou eu que estou empolgado.
E não é que eu voltei?
Mas eu sempre caio na risada com esta imagem e esqueço o que de fato ia dizer!
Eu não vou desistir, não vou!
Risos
Cura: doses homeopáticas de Panqueca, a gata mais linda, mais Garfield e mais temperamental do Rio.
;-)
Acho que não é exatamente isso que estás procurando, mas pode servir.
Bjs
Queridos amigos,
Acabo de voltar do almoço, após comer lautamente passei, como de costume, na Livraria da Travessa para namorar a vitrine e eis que me deparo com o seguinte título, a brilhar em meio a tantos outros: Meu Destino É Ser Onça.
Seria o sinal pelo qual tanto ansiava? Como não acredito em coincidências, entrei entre sorrisos de nervosismo e imediatamente adquiri um exemplar.
Observem o seguinte texto, que se encontra na orelha do livro.
Após estudar os fragmentos de registros feitos pelo frade André Thevet sobre a cultura indígena durante a ocupação da Baía de Guanabara, em 1550, e cotejá-los com as demais fontes dos séculos XVI e XVII, o autor reconstituiu o que teria sido o texto original de uma narrativa mitológica da tribo tamoio (os tupinambá do Rio de Janeiro).
Alberto Mussa montou uma espécie de quebra-cabeça e reconstituiu o que teria sido o texto original de uma grande narrativa mitológica dos tupinambá - que abarca a história completa do universo, de suas obscuras origens ao iminente cataclismo final. O tema central [...] é a busca da terra-sem-mal. [...] a complexidade metafísica tupi aponta para uma surpreendente conclusão: a de que o rito antropofágico era, para os índios, a principal aquisição da cultura, capaz de transformar em Bem o Mal inevitável inerente à natureza. [...] no jogo canibal, cada grupo depende totalmente de seus inimigos, para atingir uma vida de prazer e alegria".
Estarei perto de decifrar este inquietante enigma que me aflige? Acho que estou no caminho certo e dito isto, me calo.
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