Chef renomado, escritor polêmico, apresentador e showman daquele que é muito mais do que apenas um programa de culinária, é o melhor programa da TV já existente. Anthony Bourdain, 53 anos, é odiado por defensores de animais e vegetarianos -ódio, aliás, recíproco- e identificado pelo Discovery Travel & Living como um "Indiana Jones da gastronomia", sempre disposto a comer tudo que inclua miúdos, "street food" ou foie gras, Bourdain ficou famoso mundialmente ao publicar em 2001 o bombástico livro "Cozinha Confidencial" (Companhia das Letras).
O livro causou furor, relatando três décadas de experiências nas cozinhas dos principais restaurantes do mundo até chegar ao almejado posto de "chef".
As "experiências" incluíam não só os bastidores dos restaurantes duas e três estrelas pelos quais passou, e a revelação de temperamentos de seus pares, colegas e superiores durante esse aprendizado, mas também os segredos de alcova no mundo da alta gastronomia, bem como os "podres" que envolvem esse universo tão sui generis e tão ou mais forrado de estrelas temperamentais e talentosas que o mundo do rock. Bourdain é isso. Ele é o rock'n'roll -pense em N.Y. Dolls, Voidoids e em Lou Reed- da cozinha mundial contemporânea.
O próprio chef sucumbiu à pressão desse mundo egocêntrico, onde o erro não é jamais permitido. Ele não hesita em revelar com sinceridade como se viciou e livrou da cocaína e, mais tarde, da heroína, usadas alucinadamente durante o preparo de bufês, ou durante e após o expediente.
O álcool, no entanto, continua seu parceiro. Ele faz questão de não esconder isso. Aliás, não esconde coisa nenhuma, e aí está o seu charme.
Mordaz, sarcástico e absolutamente incorreto politicamente, é veloz ao responder qual sua receita para comer tanto e continuar com o corpo eternamente esguio: "Não comer nada entre as refeições e três maços de Marlboro por dia".
No Brasil há quatro livros de sua autoria, todos da Companhia das Letras: "Anthony Bourdain e as Receitas do Les Halles - Nova York" (restaurante do qual é o chef titular e vitalício), "Cozinha Confidencial: uma Aventura nas Entranhas da Culinária", Em Busca do Prato Perfeito: um Cozinheiro em Viagem" e "Bobby Gold: Leão-de-Chácara" (romance).
Bourdain apresenta desde 2000 o "Sem Reservas". Já visitou os países e culinárias mais distintos possíveis, como Vietnã, Camboja, Índia, Coréia, Canadá, México, Brasil (adorou feijoada, que considera um prato perfeito), norte do Canadá (onde comeu uma pobre foquinha), Japão, Argentina (dividindo uma picada com os Pericos), México (onde viu o primeiro animal ser morto para ser preparado) e, a principal experiência, a qual considera a epifania que o levou à carreira culinária: a primeira ostra que provou retirada do mar, na costa da França.
No programa, em cujo formato, sim, reside o verdadeiro encanto, já correu riscos consideráveis.
Na Nova Zelândia capotou com um triciclo motorizado durante as filmagens e quase quebrou o pescoço. Na Índia, tomou a versão mais concentrada de uma "cachaça" alucinógena local e apagou na areia da praia. Na selva amazônica, apesar da proibição do canal, bebeu Santo Daime e "viajou". Na Islândia, provou uma iguaria feita com carne podre (sic) de tubarão "conservada" em ácido.
Amante de Ramones, inimigo número 1 de karaokês, implicante com a humanidade comum por natureza, Bourdain não suporta (gratuitamente) a atriz Helen Hunt, que faz questão de chamar de "canastrona". Também odeia -mais aí por motivos pessoais- o ator Woody Harrelson, um xiita norte-americano defensor da alimentação estritamente vegetariana.
"Gente como ele acha que vale mais a pena manter o cólon limpo (das impurezas da carne) do que ter qualquer experiência na vida. A verdade é que gente assim nem vive."
Esse é Anthony Bourdain, desaconselhado para principiantes.