quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

The Films - Black Shoes




There is hope lads, there is hope...'ave a nice week.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Pin-up da semana



By Joyce Ballantyne (1918-)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Song of the week: Tony the Phoney

I just wanna tell you,
If you don't behave I'm gonna smash you,
And if you don't believe, in a word that I say,
Time won't give opportunity for you to ever run…away

Oh Tony, a complete phoney
Oh Tony, a complete phoney

Out of time and out of fashion,
You're pathetic outfit just makes me want to...slap you,
And if you don't stay away, out of my sight,
You gonna beg me for mercy, to my own delight
But no

You're not worth it
No
You’re not worth it

Oh Tony, a complete phoney
Oh Tony, a complete phoney

So that's how they call you now?
As you stroll by
The places only meant for our eyes

I will be in the bar, with a head full of gin,
And when you'll be unmasked
Oh, that will fill my soul up to the brim
For you
You’re not worth it

Oh Tony, a complete phoney
Oh Tony a complete phoney


So that's how they call you now?
Soon they will realise
Some things were made to be mine.


So that's how they call you now?
Will they realise?
Some things were made to be mine.

Shoot once, not twice,
As the lights go out I say goodbye.

Barcelona



Avui vaig despertar i vaig estranyar els carrers de Barcelona, l'olor dels carrers de Barcelona, de com és bé caminar en l'hivern pels carrers de Barcelona.

Avui vaig despertar i senti moltes ganes d'escoltar català, la llengua de Barcelona, parlada per la gent de Barcelona, en el meu barri de Barcelona.

Avui vaig despertar i vaig estranyar tots els meus amics de Barcelona, les veus dels meus amics de Barcelona, i de com és bé prendre vi i reirse, escoltant les veus dels meus amics de Barcelona.

Avui vaig despertar i no estava en el meu llit de Barcelona, en aquest llit teu pié no està pegat al meu i quan m'aixeco no et veig i acordo el que més estrany de Barcelona.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Our Heroes


Simonon and Strummer, apparentely on the way to the studio to record Bankrobber.

Pin-up da semana


By Alberto Vargas (1896-1982)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O Progresso


Apesar de hoje ser feriado acordei cedo porque, entre outras obrigações matinais, tinha que vir trabalhar. É amigo, estou juntando várias atividades ao meu curriculum de dublê profissional e a última delas é ser dublê de micro-empresário.


Mas tudo bem, apesar do agradável bate-papo com whisquinho tomado ontem na casa da Edith e do Achilles, acordei cedo, sóbrio e disposto a transformar o dia num dia útil.


E lá se vai o Homem de Azul rumo ao Centro, lendo o seu livrinho, sorrindo sozinho no ônibus praticamente vazio, como ele gosta, sem gente falando alto e sem saber das intimidades alheias nem dos detalhes sórdidos explicados pormenorizadamente via celular. E olhe que o ônibus tinha até ar-condicionado, "todo un lujo" nestes tempos de calor acachapante, que isto aqui está mais parecendo Belém do Pará ultimamente.


Pois bem, lá ia eu entretido ainda com o Ubaldo, lendo as suas crônicas, imaginando aquele sotaque Baiano maroto e me divertindo ao imaginar as cenas quando de repente do riso fez-se o pranto e, ah sim, das mãos espalmadas fez-se o espanto. Que raio de barulho é esse?


Realmente, eu até que não posso me queixar muito da minha readaptação em terras cariocas, o retorno era algo desejado e eu tinha convicção de que bastaria voltar a caminhar seminu novamente pelas ruas de Copacabana e tomar meus "Gim Tonics" na Americana nas tardes de Sábado para me sentir como se daqui nunca houvesse partido.


Entretanto, existem coisas que inegavelmente me incomodam, por exemplo, qual é a necessidade de terem colocado televisores nos ônibus desta cidade?


Como se não bastasse o esforço Hercúleo empreendido por mim diariamente na tentativa de alimentar o intelecto, entre comentários picantes, freadas bruscas, trepidações e sacolejos de todo gênero e munido precariamente de uma lente de contato que está meio grau acima do meu, ainda tenho que ser interrompido por uma porcaria de televisor cafona a cortar a placidez da manhã?


Duas coisas podem ser argumentadas contra mim:


a) Não seja maluco e compre uma lente de contato no seu grau;



b) Se te incomoda tanto, pare de andar de ônibus e compre um carro.



Quanto à primeira nada a dizer, é verdade, não é que eu seja excêntrico (tá bom, tá bom, eu sou um pouco, mas nesse caso isso não se aplica), a verdade é que não fazem lentes descartáveis no meu grau exato e eu tenho que escolher por aproximação uma que me torne menos cego. Dessa vez, entretanto, exagerei e não estou enxergando patavinas.


Quanto à segunda devo dizer que sou meio altista e que o ato de dirigir para mim é demasiado penoso, além de ser atividade das mais temerárias, para a população sobretudo, já que, além de meio cego e ansioso, sou muito distraído. De toda forma, ultimamente revi os meus conceitos e estou trabalhando, entre outras coisas, para comprar um auto assim que der. Pedestres tremei!


Enfim, ter saído do meu transe literário por um televisor aos berros em um ônibus me aborreceu sobremaneira e achei mesmo a iniciativa de muito mau gosto. Deve ser a nossa baixa auto-estima tupiniquim que faz com que inventem essas coisas. Queremos que o Brasil seja a Noruega, falamos dele como se estivéssemos na Alemanha e inventamos esses luxos para demonstrar nosso progresso e arrotar nossa superioridade.


Vejam como somos modernos, nossos ônibus têm ar-condicionado e televisão! - Dizemos. Pouco importa que sejam montados sobre chassis de caminhão e que os degraus estejam a quase um metro do chão derrubando nossos velhinhos. O que importa é que temos clima de montanha e Ana Maria Braga sobre quatro rodas...controlados por chauffeurs educados e atenciosos, praticamente ingleses, jamais como os de Luanda ou Belmopan.


E foi assim que cheguei ao escritório com a certeza de que o progresso é uma coisa formidável, não consegui ler mais nada é certo, mas fui trabalhar duro para atender aos apelos do presidente e pra ver se eu consigo, o mais breve possível, finalmente ler...em Paris.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Our Heroes


A young Billy Bragg stares, maybe thinking about life and death and things we only do when we're bored.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Let's go for a drink!







When reality bites.

The marriage


Early in the morning, I'm so free


Hands off the bride, boy!


The beginning of a great adventure.


Among vikings.


The wannabe mobsters.


Steady, gals!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Pin-up da semana

By Patrick Hitte.


Feliz 2009!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

SMACK!


Nada como um fim de semana dedicado à cultura pra renovar o espírito, incluídos aí artes cênicas e música. Com relação a esta última, já estava mais do que na hora de eu me atualizar um pouco e tentar recuperar o tempo perdido, ultimamente pareço ser apenas uma pálida imagem do homem que já fui (mas shhhh, não contem pra ninguém, manter a pose é fundamental vocês sabem).

Enfim, tudo isso pra dizer que fui ao Humaitá Pra Peixe no último Sábado, na noite dedicada ao selo Midsummer Madness, que há mais de 20 anos vem prestando bons serviços ao Lado B do rock no Rio, para assistir duas bandas que recentemente tinham me chamado a atenção: Luisa Mandou Um Beijo (RJ) e Supercordas (SP).

E é mesmo como sempre diz o camarada BR: se estiver na dúvida entre ir ou não a um show, mesmo que seja de bandas desconhecidas, vá!

Eu fui, e não sei por que tinha a sensação de que iria gostar. Já havia ouvido uma canção, uma versão singela do Homem Azul (há!), na voz da vocalista Flávia e tinha adorado. Mas uma coisa é voz, banquinho e um violão e outra coisa é palco com formação completa, assim que, marchei rumo à sala Baden Powell para conferir in loco a “nova” cena independente.

Não fui muito fantasiado não, fui bem básico pra ver se destoava um pouco do jeito indie de ser, que eu já não tenho paciência nem idade pra isso, e cheguei na hora, bem a tempo de me sentar confortavelmente e ouvir o mestre de cerimônias louvar a edição 2009, o Rodrigo Lariú, blah blah blah e apresentar o Luisa. Vamos às obviedades:

E rapaz, que beijo bom!!

Pra começar a banda tem uma pegada rock muito boa ao vivo e dão mesmo a impressão de que estão se divertindo a valer, coisa que sempre se agradece. Além do que, a vocalista Flávia tem o que eu chamo de carisma às avessas, ou seja, parece que não vai funcionar (com a sua timidez e voz algo limitada), mas funciona à perfeição. Sem contar que as letras, intimistas e viajantes, na voz dela são uma graça.

Além do que, descobri que definitivamente gosto de bandas com trompete, apesar de ressaltar que o seu uso excessivo faz com que as músicas tendam a uma homogeneização que não é lá muito saudável.

Mas sim, dito isso, o show me agradou muito, desde o trompete inegavelmente a la Belle and Sebastian, passando pelo excelente baixo do baixistaço PC, que me lembrou os Housemartins dos melhores momentos, até as guitarras criativas e deliciosamente melódicas. Foi um show para dançar do princípio ao fim, o que, infelizmente não pôde ser feito já que a infra da Baden Powell não ajudava em nada. Ver show de rock sentado chega a ser cruel, mas quer saber, como indie que é indie não balança nem o pezinho, acho que além de mim (que renego o meu passado até a morte) ninguém mais se importou.

Homem Azul foi executada em surpreendente versão psicodélica e depois do set de canções pegadiças eu saí de lá correndo no intervalo, entre palpitações, sudorese crônica e crises de ansiedade habituais (isso tem que ser doença) para comprar mais um CD.

Na volta me aguardava outro showzaço, o dos Supercordas, com a sua intrigante “psicodelia rural”, que, mais uma vez, me lembrou The Coral.

A Banda de São Paulo é ultra competente e deu uma verdadeira lição do que deve ser um show de rock, climático, com execução poderosa, todos os pingos nos is e gostinho de quero mais.

Como não tinha mais dinheiro nem pra comprar picolé e enfartar ali iria ser ridículo (como é sabido deve-se manter a pose), tomei um Isordil de 10mg e voltei pra casa cantarolando feliz...tem que saber que o muro é alto, deve saber que a casa é grande...

OUÇAM:

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Minimalismos


(tum, tum, tum, tum)
- Você quer?
- Muito!
- Mas agora, não pode se conter?
- Você sabe que não dá.
- Daqui do sétimo andar tudo é tão bonito.
- Rápido, antes que chegue alguém!
-Não, não e não.
(tum, tum, tum, tum, tum, tum)
- Ainda sinto o cheiro do seu café quentinho...
- Não seja cruel, vem cá.
- Está ventando muito hoje.
- Não faz isso comigo.
- Mas nós já conversamos, não precisa fazer drama.
(tum, tum, tum, tum, tum)
- Desculpe.
- Eu preciso.
- Você vai se arrepender.
(tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum)
-Você quer?
-Muito!
- Tá bom eu dou, mas você deveria parar de fumar...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Um sonho bom


Entrara sorrateira, inesperada, como uma brisa leve naquela tarde chuvosa de Natal e permanecera ali, ao seu lado.

Os olhos vivos e despertos perscrutando o seu rosto, interrogando-lhe a mente, esquadrinhando todo seu ser com o frescor e graça da sua meninice.

Ele, já nada esperava, nada desejava, observava a novidade que chegava à praia na ressaca daqueles olhos Machadianos e se limitava a sorrir aquele seu sorriso torto, encastelado e adormecido que estava nas suas lembranças, fechado, resoluto, absorto.

E, de repente naquela manhã, como que vindo de um sonho bom, despertou, ergueu-se, esfregou os olhos, espreguiçou-se, olhou pro lado e ela continuava ali. Contemplou toda a extensão do seu corpo nu, escorregou pelo seu ventre, impulsionou-se nas curvas da sua cintura e saltou da cama.

Sentia-se bem, uma risada escapou-lhe da boca, o café sem açúcar pareceu-lhe mesmo doce. Vestiu sua roupa de super-homem e saiu voando pela janela do sexto andar em direção ao Arpoador, quase sendo atropelado por um distraído bem-te-vi que não honrava o apelido.

No peito aquela sensação morna, do sol gostoso que surgia esquentando-lhe as costas. Era verdade o que dizia Nelson no seu walkman, quando afirmava que o sol havia de brilhar mais uma vez. E com ele brilhava de excitação aquele ano, novo e onde tudo era possível, e a cidade vista de cima, naquele dia que estava bonito pra xuxú.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Bar ruim é lindo, bicho!

Aproveito para dividir com todos os meus amigos, meio intelectuais, de esquerda ou não e tão bem formados, essa maravilha de crônica que eu recebi hoje via e-mail, de outra maravilha.

Quem não se identificar ou não se reconhecer que atire a primeira pedra. Ô Betão, chega mais!

por Antonio Prata, Seção: Papéis avulsos

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem).
No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.


– Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida.

Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectuais, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.

O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?).

– Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Rei da Noite


Hoje de manhã lendo a crônica O Rei da Noite, do João Ubaldo Ribeiro, foi impossível não me lembrar da noite do reveillón.

Ganhei o livro, diga-se de passagem, em um festivo amigo oculto de fim de ano, poucos dias antes, sob piadinhas de que o título seria uma alegoria à minha pessoa. Nada mais equivocado, se tem uma coisa que eu nunca fui é precisamente o rei da noite, até porque, apesar de bom bebedor não sou notívago e muito menos sociável.

Piadas à parte, o texto, delicioso, trata dos tempos em que o escritor era um boêmio inveterado e especificamente sobre o dia seguinte ao de uma festa daquelas, em que ele, entre a culpa e a surpresa, tenta se lembrar da noite, sendo prontamente corrigido pela mulher quanto ao relato cronológico dos fatos, numa sucessão de Ohs!

A identificação não veio só pelo fato do Ubaldo escrever inspirado nas próprias vivências, mas principalmente porque a noite de fim de ano, como qualquer festa pagã que se preze, foi uma noite de verdadeira e salutar carraspana entre amigos.

E que, neste pequeno círculo em particular, ali sim sou o rei da troça, um ser burlesco sempre pronto a cooperar quando se trata de fazer rir a plebe, com o relato das venturas e desventuras desse verdadeiro Dom Quixote contemporâneo que por vezes sou. Sejam elas reais ou não, o fato é que a fórmula é sempre bem-sucedida.

Não sei, mas ultimamente me preocupa a interferência da persona sobre o indivíduo, sobre quais manifestações seriam genuínas e quais seriam mero artifício cênico. E o mais grave, será que o hábito está de fato a formar o monge? Ou devo dizer deformar?

Peço desculpas por tais digressões Excelências, mas de alguma maneira me senti assim como a personagem da crônica, entre a culpa e a surpresa, sem grandes motivos para isso e, no entanto, não pude evitar. Talvez precise de novos ares, talvez interpretar uma nova peça, talvez apenas beber menos.

- Nunca mais eu saio, nunca mais boto os pés fora de casa, nunca mais entro num bar, nunca mais!

- Sim, querido. Mas não sei por quê. Todo mundo acha você o rei da noite, querido.

E era primeiro de janeiro, não primeiro de abril.
 

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