terça-feira, 31 de março de 2009

Victoria?


É sabido o fato de que a era Vitoriana se caracterizou como sendo um período de larga prosperidade para o Império Britânico, fruto em grande parte do lucro proporcionado pelas colônias e também pelas transformações e melhoramentos sociais impostos pela revolução industrial.

Entretanto, a qualidade de vida nas cidades da Grã-Bretanha nesta época não acompanhava o momento de progresso do Império. As ruas eram imundas, com esgotos transbordando e o saneamento básico era pobre e ineficaz. As instalações sanitárias eram demasiado básicas e mão de obra humana era empregada para remover resíduos humanos durante a noite - não era exatamente uma tarefa divertida. Na verdade, o cheiro deveria ser horrível em um dia de calor avassalador. Nestas condições, a água estava contaminada e muitas vezes imprópria para beber e por isso, não era surpresa nenhuma que a morte e a doença fossem habituais.

Dentre as doenças Vitorianas preferidas estavam certamente no top five a "morte negra" e a "varíola". Não havia um Serviço Nacional de Saúde, e aos doentes pobres que não podiam pagar por um médico só lhes restava a cova rasa. Os pobres, que viviam em casas úmidas e sujas e tinham uma dieta pobre, frequentemente eram afetados por doenças como o sarampo e a gripe e modernas drogas como antibióticos, não estavam disponíveis na época.

Sendo assim, é curioso notar um paralelo entre essa época tão distante e a condição lamentável na qual me encontro atualmente. Deve ter sido a leitura contínua e reiterada de Dickens e o sonhar com o retorno e a glória de Albion que me transformaram em praticamente um Oliver Twist contemporâneo, agora até com o corpo coberto de chagas e levando uma vida sórdida, torpe e o que é pior, sem nenhum charme.

Até as ruas do Centro fazem lembrar as de Londres no século XIX, a coisa não mudou muito por aqui nos últimos cem anos (especialmente em dias de chuva), assim que me sinto plenamente ambientado e pronto para ser corrompido. Does the body rule the mind or does the mind rule the body? I do know.

Please, sir, I want some more.

Pin-up da semana by Lost In Translation


Ah essas mulheres, lindas, incoerentes, sedutoras, irresistíveis!!
A coluna preferida desse blog acaba de ganhar um reforço de peso, pera aí, de peso só não, de luxo!
A partir de hoje, veremos nossas meninas não mais postadas por esse homem azul e babão que vos fala, mas sim sob a ótica feminina (que delícia!), isto é, através dos olhos da querida Amèlie, do blog Lost In Translation, que nos brindará com a sua seleção pessoal... o que torna tudo muito mais interessante, não é?
Aproveitem rapazes - e moças tb., não há como resistir, é sedução em dose dupla. ;)

sexta-feira, 27 de março de 2009

Kin a poem


Brother, I am fire
Surging under the ocean floor.
I shall never meet you, brother
Not for years, anyhow;
Maybe thousands of years, brother.
Then I will warm you,
Hold you close, wrap you in circles,
Use you and change you
Maybe thousands of years, brother

Carl Sandburg

quinta-feira, 26 de março de 2009

Na loja da esquina


Me lembro exatamente da primeira vez que cheguei em Londres e de como gostava de caminhar por Kensington, especialmente de passear pela região da Kensington Road, observando com curiosidade a quantidade de Paquistaneses e Indianos à minha volta com suas roupas vistosas. Era a primeira vez que os via de perto, estavam por todos os lados, nos comércios, nos restaurantes e até como responsáveis pela venda da mais ilustre iguaria Inglesa, o Fish and Chips.

Anos mais tarde, já vivendo em Barcelona, tive a oportunidade de conviver bem de perto com esse fascinante e misterioso universo, composto de gente tão distinta a nós e que é muito mais interessante do que a caricatura de qualquer novela das oito.

Minha casa ficava bem perto do Raval, que, como já anteriormente comentei, é o bairro das diversidades étnicas e religiosas por excelência. Línguas como Urdu, Punjabi, Hindi, Kashmiri e Bengali ali são triviais e facilmente audíveis pelas suas ruas (mas não, isso não quer dizer que eu possa diferenciar uma de outra).

Recordo minha reação de surpresa ao flagrar aqueles homens de tons pardos em seus quase pijamas, com ou sem turbante, sempre conversando olhos nos olhos e de mãos dadas pelas ruas, como se fossem amantes apaixonados.

O cheiro dos Duruns e Kebabs no pão pita quentinho, companheiros inseparáveis de tantas madrugadas.

E também a extrema gentileza nos seus gestos comedidos, reservados e solícitos, além do seu tino comercial apurado que faz com que sobressaiam no quesito trabalho duro. Realmente, é impressionante observar aos Pakis, como eu os chamava, trabalhando. Sua disposição deveria servir de exemplo para mais de um ocidental, mas, infelizmente não é bem assim.

São capazes de colocar toda a família se revezando em turnos e deixar a loja aberta 24 horas se for possível. Nada que ver com o famoso hábito da siesta na Espanha, que faz com que durante a maior parte da tarde o comércio simplesmente não funcione. Só Deus sabe como teria sido a minha vida sem a ajuda dos Spars. Onde mais se encontra cerveja a 0,60 de Euro?

Uma outra coisa chama a atenção na Europa e não é de hoje, boa parte do Europeu médio se recusa terminantemente a desempenhar determinadas funções, consideradas como sendo inapropriadas de um "homem de bem", branco e Europeu. Entre elas está a limpeza, o pequeno comércio, a função de garçon e outros serviços de atendimento ao público em caráter servil.

Sendo assim, nada mais natural que essas funções, tidas como menos nobres, sejam ocupadas por gente que não está ali para perder seu tempo com bobagem, os imigrantes.

E de fato é assim, os imigrantes, desempenhando o trabalho renegado pelos Europeus, não só encontram a sua forma de sobrevivência, como ainda representam uma injeção de força na mais do que combalida economia Européia. Não deveria haver problema, certo? Errado.

Ainda me lembro de um movimento feito pela prefeitura com o intuito de proibir os estabelecimentos dos Pakis de funcionar depois das 20:00 (quando o comércio em geral fecha e ninguém tem mais opção de coisa alguma), com o argumento de que representavam um desequilíbrio junto aos demais comerciantes. Ora bolas, se eu quero trabalhar até meia-noite enquanto os locais descansam qual é o problema?
.
Assim que, vira e mexe a comunidade era alvo de ataques, mais ou menos sutis, por parte do poder público e da sociedade local, indignados - e não raro amedrontados - com a nova realidade multicultural da sua cidade. Eu cá tenho a impressão de que o que os incomoda mesmo, é o fato de que os imigrantes, prósperos ou não, parecem muito mais felizes do que eles. Não é curioso?

É isso que muitas vezes acontece quando não se sabe como lidar com as diferenças, temos medo. Alie-se a isso uma perspectiva econômica cinzenta e logo nasce a dor de cotovelo, o racismo e o preconceito. O mesmo preconceito que alimenta os partidos nacionalistas, aparentemente em franca ascensão, e que serve de fomento às hordas de trabalhadores locais na hora de culpar os estrangeiros pela falta de emprego e demais problemas sociais enfrentados.

Na Espanha em particular, o termo despectivo Sudaka é amplamente empregado para qualificar Latino Americanos em geral e manifestações de cunho xenófobo são bastante frequentes.

É um problema antigo e que volta à tona nessa época de crise mundial com força avassaladora. E eu aqui me pergunto como estarão indo meus amigos, Salim, Shauar e o dono da vendinha da esquina, que tão bem me tratou durante todos esses anos de convívio (embora não houvesse maneira de convencê-lo de que eu era Brasileiro, ele tem certeza até hoje de que sou Italiano).

Tive vontade de escrever sobre isso hoje de manhã, enquanto me vestia para ir trabalhar, ouvindo o maravilhoso Sound Affects do Jam. Mais precisamente escutando Man In The Cornershop, uma pérola do Weller que, com o seu habitual olhar crítico e aguçado, já tratava disso há exatos 28 anos.

Aqui vai o meu tributo a todos vocês meus caros, em qualquer esquina, em qualquer lugar...for God created all men equal!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Ciranda ao redor da fonte



Algumas melodias não cansam de me surpreender pela força e beleza que conservam, mesmo depois de tantos anos o poder de emocionar permanece intacto, essa é uma delas. Boa segunda-feira.

...I wouldn't say no.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Gibson e as mulheres


Ontem acabei saindo com uma amiga para o encontro semanal da sua confraria feminina (sim, elas também fazem isso). Eu já havia participado de uma dessas reuniões tempos atrás como convidado e achei a situação absolutamente hilária, assim que, assumi o risco de voltar.


O encontro permite, entre outras coisas, partilhar dos segredos do fascinante universo feminino, ver como elas se comportam sem freios na intimidade, e ainda, observar o critério adotado para conferir notas a nós homens, já que, aos passantes do sexo masculino que, involuntariamente cruzavam o nosso campo de visão, era imediatamente emitido um juízo de valor sobre os seus atributos físicos.


Rapaz, é mesmo formidável, categorias como "3 mas pegável" e "8 indicável", entre outras que não devo comentar aqui, me eram totalmente desconhecidas. Afortunadamente, as "membras" da confraria foram gentis comigo e eu não fui objeto de votação em mesa. Entretanto, notei que elas me olhavam de modo esquisito e cochichavam entre risinhos enquanto eu voltava do banheiro, bem, deixa pra lá.


O fato é que ontem conversei animadamente sobre drinks com uma delas e descobrimos que tinhamos afinidades por bebidas não tão disseminadas ou mesmo não tão apreciadas, como o meu querido bloody mary. De forma que decidi postar uma sugestão para essa sexta-feira de tanto calor, um drink delicioso, fácil de fazer, e que, se você não conhece, talvez surpreenda o seu paladar. Vamos a ele:


Gibson

- 60 ml de Gin ou Vodka (prefira Gin)

- 15 ml de vermute seco

- Combine todos os ingredientes numa coqueteleira com gelo.

- Verta o conteúdo em um copo de martini previamente resfriado

- Enfeite com três cebolinhas peroladas e uma casquinha de limão e...a desfrutar!


Bom fim de semana e se tiverem alguma dúvida me chamem que a gente bebe junto. Salud!

quinta-feira, 19 de março de 2009

Pin-up da semana


Elas voltaram, esse blog estava muito sem vida.
Edward Runci é um excelente, mas infelizmente pouco conhecido mestre de pin-ups a óleo. Suas pin-ups revelam um talento e habilidade comparáveis à Elvgren, é só olhar para saber porque.

Watchmen


Domingo fui finalmente assistir ao filme Watchmen, baseado na soberba HQ que eu tinha lido pela primeira vez ainda moleque nos anos 80. Só tenho uma coisa a dizer, certamente é a melhor adaptação para o cinema de uma história em quadrinhos que eu me lembro de ter visto, o tom adotado está perfeito, o ritmo empolga e a maioria dos heróis está realmente como eu imaginava.

O que é o Rorschach? Está fantástico e de longe o personagem que mais me impressionou no filme, apesar de ser um fã incondicional do Nite Owl. Entretanto, com tudo isso, confesso que saí um pouco deprimido do cinema e a culpa é de um certo homem azul. Não estou nem aí para os faniquitos e para os humores do Dr. Manhattan que quase causam a destruição do planeta, o que me chateou mesmo foi perceber que, de homem azul para homem azul, e, ainda que ele seja um chato de galochas, o dele é maior que o meu.

A Onça

Chasse au Tigre (Caça à Onça) – Johann Moritz Rugendas – Da obra “Voyage Pittoresque au Brésil


“O arco e a flecha são as armas principais dos índios. São muito mais compridos do que as de outros selvagens, embora a maior parte dos índios da América Meridional use também arcos e flechas muito compridos. A lança e o laço se encontram apenas em algumas tribos que, depois do descobrimento, adotaram o cavalo para combater. E somente nessas tribos foram os arcos e as flechas encurtados. O arco dos brasileiros tem muitas vezes cinco, seis e mesmo sete pés de cumprimento...Há três espécies de flecha. Uma de ponta larga, feita em geral de bambu tangaraçu; é dura e muito aguçada. Para aumentar ainda a força da penetração, a ponta é encerada e a taquara, também encerada ao fogo, torna-se tão dura quanto o chifre. Como na taquara a ponta é oca, os ferimentos que ela produz sangram fortemente. Por isso é empregada, principalmente, na guerra e na caça de grandes animais.”

Outro dia despertei sobressaltado, suando frio e com um nó na garganta, nos meus sonhos era atacado por uma onça. Não era uma onça qualquer, era um felino de considerável porte, meio mulher meio onça e que me perseguia sorrateiramente pelo meio da mata, como naquela lenda indígena da qual uma vez ouvi falar.

Essa lenda amazônica diz respeito a uma fera, cujo nome eu não me lembro, que é uma mistura de homem e onça e dizem que aparece de noite, como um caapora ou curupira, protegendo a floresta daqueles que a depredam e castigando-os sem dó nem piedade.

Deus sabe que nunca liguei muito para felinos de qualquer espécie, os gatos especialmente sempre me incomodaram com o seu elevado senso de independência, que faz com que cada um de seus gestos em nossa direção pareça a migalha de um aristocrata ofertada à plebe.

Além de não serem servis como os cães, o seu comportamento é uma miríade de sutilezas que requer aguçada disposição para interpretá-las. Como se não bastasse, mesmo quando recebem carinho, daqueles que se iludem crendo ser seus donos, jamais perdem a sua altivez e a fleuma.

Mas, no meu sonho, esse felino era diferente, possuía um estranho magnetismo e sedução que fazia com que, por mais que me embrenhasse na mata em fuga, tivesse a nítida sensação de que todos os caminhos me levavam até ele.


Me sentia uma espécie de Antonio Proaño às avessas, a personagem principal da obra do escritor chileno Luis Sepúlveda – O velho que lia romances de amor.

No livro, Antonio é um homem velho e humilde, morador de El Idilio (um povoado perdido na região amazônica), profundo conhecedor da floresta, local onde se refugiou e aprendeu a sobreviver após a morte da sua esposa e que passa os seus dias a ler tristes romances de amor. Um certo dia começam a aparecer pessoas e animais mortos, atacados possivelmente por um predador, uma onça.

O povoado, entretanto, acredita que os responsáveis são os Shuar, tibo indígena que outrora havia ensinado a Antonio o gosto pela liberdade e o respeito pelos animais. E é Antonio quem, sozinho, após uma expedição mal conduzida pelo líder do povoado, esclarece o mistério, salvando a reputação da tribo e conseguindo abater o felino, embora lamentando-se da desigual luta que opôs um animal a um homem fortemente armado.

Digo às avessas porque aqui, por mais amuniciado que eu pudesse estar, sabia de antemão quem sairia vencedor dessa estória e quem seria abatido, eu não tinha a menor chance.

A cena que me despertara, quase me fazendo cair por duas vezes da cama, era a seguinte: Me via correndo de noite, na beira de um igarapé, sem ter como atravessá-lo e sentindo a real presença do predador às minhas costas. Ele no entanto não se aproximava, se detinha pacientemente, como se estivesse estudando meus movimentos, me analisando antes de dar o primeiro bote. O tempo passava e nada, a angústia era insuportável.

Mas, desarmado e sem ter como atravessar o rio, não me restava outra opção a não ser a de aguardar e esperar, o que fazer? Do meu lado uma imponente Sumaúma se erguia a 40 metros do solo. Lembrei-me que os índios utilizavam as reentrâncias das suas imensas raízes, verdadeiras “cabines”, como abrigo para dormir; reenconstando-se nestas e cobrindo-se com folhas de palmeira para não serem pegos de surpresa por predadores noturnos.

E foi aí, enquanto tentava fazer exatamente isso, que senti o impacto de um corpo contra o meu, como se houvera sido atropelado por um trem, e fui atirado a metros de distância. Ainda zonzo, sacudi a cabeça e tentei recobrar a consciência, as árvores dançavam na minha frente e no meio delas, dois faróis me observavam intensamente.

Nunca havia visto algo de tanta beleza, estava prestes a ser devorado e o medo já não existia, me apercebia apreciando os contornos do felino parado, ali, bem na minha frente e não lhe podia resistir.

A onça me fitava e ronronava baixinho, não era um rugido, um latido ou um urro, não era um balido, nem certamente um grito, era um canto melódico e apaixonado de um sentimento e de uma expressão profundos. Vagarosamente, veio se chegando e senti suas garras imobilizarem meu corpo, sua língua a deslizar pela parte interna das minhas pernas, subindo pelo ventre até parar e me encarar de frente. Nos meus delírios mais frenéticos, me sentia o próprio Batman na clássica cena em que a mulher gato seduz o homem morcego.

A onça se fazia meio gata, meio mulher, e possuía uma expressão enigmática. Seus olhos se prenderam aos meus por um segundo, e então ela continuou a me lamber vagarosamente, dessa vez indo até a minha mão e chupando meus dedos como se fosse um picolé.

A acaricio por alguns segundos, ela mordisca levemente o meu pulso. Uma onda de calor me invade o peito, e então, sem nenhum aviso ela dá meia volta e se vai, como se a medida de carinho já tivesse sido suficiente.

Raio de gata temperamental! - Exclamei, pulando da cama como se o mundo se acabasse e decepcionado por estar sozinho no quarto. Se aquilo era um pesadelo, por favor, quero sempre sofrer assim.

Alguns dizem que os sonhos nos trazem importantes mensagens e que devemos estar atentos a estes sinais e a influência que os mesmos têm em nossas vidas. Certamente há muito que aprender com certos felinos: ser intenso, mas sem abdicar da suavidade; mostrar-se sensual, mantendo certa reserva; comportar-se com altivez, mas desprezando os pedantismos. Mas e aí, será que é só isso?

Como me sinto incapaz de realizar esta tarefa sozinho e chegar às minhas próprias conclusões, já marquei hora hoje com a minha psicoterapeuta que, certamente, terá importantes subsídios a dar para a elucidação desse misterioso quebra-cabeças e me ajudará a livrar-me da minha dificuldade em lidar com certos felinos, que, desde então, parece só aumentar.

terça-feira, 17 de março de 2009

Um brinde

Já faz algum tempo que tomei a decisão de seguir carreira solo, foi uma decisão que, embora não sendo estanque, se manifestou de forma natural e, dadas as circunstâncias do momento, mostrou-se ser a mais acertada...ou isso creio.

O homem em questão sempre foi ansioso por natureza e com uma dificuldade relativamente grande em ficar sozinho, meditando com os seus próprios botões e tomando o seu tempo com a devida e necessária tranquilidade e quietude. De forma que, o ato de “solar” tem permitido um maior conhecimento sobre a sua essência e, igualmente, tem se revelado um excelente exercício de independência, paciência (muita) e disciplina. O único risco que corro é me transformar em um ser algo místico, na linha do pensamento filosófico chinês e começar a ficar chato, analisando e interpretando as energias que me cercam e aonde vai desaguar essa grande aventura que é a vida. Mas não se preocupem, tenho autocrítica e nenhuma vocação para pastor ou para embainhar as espadas a la Musashi e sair peregrinando em busca do auto-conhecimento. O meu caminho, o tao, rumo ao equilíbrio consiste em ler horóscopo de jornal e percorrer as velhas ruas entre o Posto 6 e o Arpoador dia trás dia, tentando, isso sim, cometer erros diferentes. Terão elas condições de redimir-me de meus pecados e livrar-me de meus fantasmas? O tempo dirá.

Na verdade, nem sei por que estou abrindo o post com tais confidências quando iria falar sobre a amizade, inspirado por outro post de um novo velho amigo que tem me brindado com a sua companhia em eventos para lá de agradáveis. Bem, na verdade eu sei, passemos o último fim de semana em revista.

Yo no creo en brujas pero haberlas haylas”. A sexta-feira 13 honrou a fama que tem, foi realmente bastante difícil e, ao fim do dia, nem hesitei quando me convidaram em partir para a Lapa e tomar umas e outras. O que eu não esperava era ir para dito bairro na companhia de pessoas tão inesperadas e que a noite fosse tão divertida. Não tomei umas e outras, tomei todas e voltei para casa sabe-se lá Deus como, a amnésia alcoólica existe e pode ser assustadora.

No Sábado, outro convite inusitado partiu de uma velha e querida amiga e lá fui eu para uma festa que prometia ser, no mínimo, animada. A aniversariante era uma amiga de um amigo da amiga e havia convidado 150 pessoas, ou seja, havia a perspectiva de uma noite muito agradável pela frente.

Existem momentos em que me pergunto se o grande vilão bíblico não terei sido eu ao invés de Judas Iscariotes. Terei jogado pedras na cruz a gargalhar? Se alguém assim o fez, possibilidades existem de que o mesmo já tenha reencarnado e se encontre escrevendo nesse exato momento em algum lugar ao sul do Equador.

Realmente, a festa estava “bombando”, as pessoas não paravam de chegar e dos 150 convidados, pasmem, 95% eram integrantes do público feminino. Que beleza, que colírio para os olhos! Beleza? Jesus, Maria e José, perdão! – Deveria ter dito eu compenetrado e ajoelhado no milho (ou no amendoim, o que mais lhes apeteça).

Eu deveria saber que tinha alguma coisa errada, meus amigos, o menor pé ali era o meu e olhe que eu calço 43 bico largo. Sim, era efetivamente uma festa gay e conforme a noite evoluía, os ânimos se exaltavam e a coisa esquentava. Achei mais seguro ficar a maior parte do tempo sentado bebericando uma cervejinha e conversando com as únicas outras duas pessoas hetero da festa, não por preconceito (não tenho nenhum), apenas por segurança. Do outro lado da pista uma mesa de marmanjos quarentões me encarava com um olhar difícil de descrever (talvez fosse o do retirante),e que, sabe-se lá porque, me inibiu.

Apesar do agudo do Jimmy Summerville no meu ouvido e da Alcione em ritmo tecno, tentei dançar até o limite do possível, mas as “truck drivers” ali presentes se faziam respeitar e me olhavam como se quisessem sair no braço, toda vez que as suas respectivas acompanhantes inadvertidamente roçavam a orla do meu manto. Na verdade, só conheci uma pessoa até hoje que era um mestre em situações desse tipo, apesar de atualmente ser um respeitabilíssimo pai de família, houve uma época em que esse amigo se notabilizou por andar no meio lésbico com a desenvoltura de poucos.

Sujeito brilhante o malandro, descobriu um nicho de mercado pouco conhecido e aproveitado por nós homens e soube extrair dali conquistas memoráveis. Sua estratégia consistia basicamente em fazer o gênero sensível e desinteressado, aproximando-se da alma feminina de forma gradativa e delicada. Quando elas menos esperavam, pumba, caíam seduzidas (meu Deus, por um homem!), e não havia volta atrás. A mim, que nunca tive tais predicados, só me restou evitar os trenzinhos lascivos que se formavam no meio da pista, desviar o olhar das cenas menos familiares, tomar minha cerveja o mais rápido possível e ir meditar sobre o significado espiritual daquela noite no abrigo do meu catre.

Sexta, Sábado, o fim de semana evolui curiosamente, o que me reservará o Domingo?

Cada vez gosto mais desse dia, sobretudo quando passado preguiçosamente ao redor de uma mesa e em boa companhia. Este, afortunadamente, correspondeu às expectativas.

Já faz duas semanas desde que voltei a poder desfrutar das tardes de Domingo da maneira que eu gosto, cozinhando entre amigos numa celebração culinária que, além de ser sempre gratificante, também funciona como um bálsamo para que suportemos os rigores da semana que se inicia.

Nesse Domingo a liga gastronômica mais kool, azul e intelectual do planeta voltou a se reunir para a elaboração de uma Paella Marinera, ou seja, um paella de frutos do mar.

Antes de mais nada, e ainda que me acusem de ser pedante, vale esclarecer que não é paelha, nem paeja, o correto é paella (pronuncia-se paeia), prato típico de Valência, Espanha, e possivelmente o arroz mais badalado que se tem notícia, embora eu saiba que os arrozes caldosos da culinária Portuguesa sejam uma coisa obrigatória, e a ser descoberta por mais de um.

Pois bem, com as bênçãos do tio Adriá, nossa paella a 6 mãos ficou muito boa, principalmente considerando-se que não tínhamos uma paellera, ou seja, a panela grande e rasa ideal para o cozimento do arroz. Mas, é como eu sempre digo, com boa vontade e criatividade na cozinha está tudo resolvido. Como somos meio metido a besta, fizemos um rico fumet de pescado para irrigar o arroz (que nada mais é do que o caldo de peixe de sempre), entretanto, adotamos a nomenclatura em questão porque, além de impressionar os convivas, parece que lhes abre o apetite.

O lado kool, novamente, trouxe toda a sua ciência culinária para corrigir os eventuais desvarios deste ser azul que frequentemente mete os pés pelas mãos e, como se não bastasse, levou um artigo de luxo: açafrão espanhol.

O anfitrião e eu já estávamos felizes achando que aquilo ali era fumo de cachimbo quando fomos advertidos por madame K que na verdade o “fumo” iria desempenhar papel fundamental no prato. Foi por um triz.

A tarde transcorreu de forma magistral, e não poderia ter sido diferente na companhia de anfitriões daquela envergadura.

E aí vale um aparte, o anfitrião em questão, frequentemente modesto nos seus comentários, ainda há pouco estava a menosprezar a sua participação no evento culinário. Falácias!

Cumpre frisar que este teve participação fundamental na elaboração da nossa paella. Quem com zelo comprou as matérias primas necessárias à confecção do prato? Quem nos recebeu com todo carinho em casa e esteve atento a cada mínimo detalhe, dos canapés (um finíssimo queijo de coalho frito na manteiga e acompanhado de geleia de pimenta que estava sublime) ao licor, passando por cafés aromatizados com amêndoas? Meu Deus do céu, pode-se pedir mais? De certo que não.

Mas isso tudo mesmo não tem a menor importância comparado ao prazer que tem sido poder privar de tão boa companhia. Dos velhos amigos eu já nem falo nada que isso é sabido, mas ele e a esposa são realmente especiais, dessas pessoas cuja identificação é imediata e que tem abrilhantado as tardes de comilança com a sua presença e esprit.

Assim que, teço loas às velhas e novas amizades, aos amigos que vêm, aos amigos que vão e aos que espero ter a sorte de ainda descobrir pelo meio do caminho. Os bons amigos são o melhor tempero da vida e na sua companhia, eu sei, não há como os dias passarem em branco ou alguém se sentir sozinho. Tim tim.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Beba com moderação

Meu bom amigo e sócio Pedro, que aparentemente está sem muito trabalho nesta tarde de sexta-feira, acaba de compartir comigo essa inquietante questão para os apreciadores das loiras (geladas ou não). Eu por minha vez me senti na obrigação de dividir essa informação da mais alta relevância e utilidade pública para evitar os ditos crimes contra a economia popular, até porque, daqui há pouco é hora de molhar a palavra que hoje é sexta-feira, estejam atentos e bom fim de semana.

CÁLCULO DE PERDA DE CHOPP



Ao pedir um chopp sem colarinho no restaurante Beduíno, localizado na Cinelândia, Centro do Rio, foi-me trazido um com um colarinho absurdo, tendo o garçom alegado que este era o chopp com “pouco” colarinho deles e que não era possível servir completamente sem colarinho.

Mas poucos sabem que a estratégia de colocar muito colarinho se dá, pois a parte superior da tulipa (particularmente do Beduíno, que é notável este detalhe) é maior em volume em comparação à base. Ou seja, cada milímetro de colarinho a mais, menos chopp o estabelecimento gasta, lucrando com a leviandade dos consumidores. A propaganda mostra uma quantidade x de chopp por dose (ex. 300ml), mas o que realmente é vendido é uma quantidade inferior. Resumindo: Você paga por algo que não vai consumir.

Curioso então com a quantidade de chopp que perco a cada copo deste, resolvi medir alguns pontos principais do copo, assim que o mesmo chegou a mesa, à fim de aferir este dado. Como já mencionei anteriormente, os dados foram coletados à mão, num guardanapo, por isso, os números iniciais podem não estar muito precisos, mas a proporção final é real, pois seria amesma com qualquer número. Segue abaixo a linha de pensamento para resolver esta questão.


Encontrar o raio intermediário (Ri)

Para encontrar o raio intermediário, precisamos primeiro encontrar os valores da linha lateral do copo. Para achar a lateral inteira, basta aplicar o Teorema de Pitágoras, utilizando como parâmetros, a altura geral e a linha do topo, que pode ser encontrada através da subtração do raio inferior sobre o raio superior.

Logo, faremos:
Lateral² = Altura² + Topo²
L² = 69² + 22²
L = Raiz Quadrada de (5245)
L = 73mm

Ri = 39mm (Encontrado usando a teoria de Semelhança dos Sólidos – Ver mais abaixo)

Encontrando as laterais superior e inferior

De posse deste novo valor aplicamos Pitágoras novamente, para encontrar as duas laterais restantes, superior e inferior.

Logo: 18² + 6² = Ls² = 19mm

Logo: 51² + 16² = Li² = 53mm

Agora, para achar o volume das partes, é necessário achar antes, o volume total do cone que deu origem ao copo. Para tal, é necessário utilizar a Semelhança dos Sólidos, ou seja, a razão entre as áreas das bases será igual ao quadrado da razão das alturas.

Para achar a área das bases:
Base Superior: π x Raio² -> 3,14 x 45² = 6358,5
Base Inferior: 3,14 x 23² = 1661,06
Logo, na Semelhança dos Sólidos, teremos:
1661 /6358 = (h-69)² / h² (onde “h” é a altura total do cone)
h = 143mm

Altura total do cone: 143mm
Altura do vértice do cone até o fundo do copo (início): 74mm


Encontrando o volume das partes

Volume de um tronco de cone:

V = ((π x h) /3) x (r1² + r1 x r2 + r2²)

Tronco inferior!
Onde:
Π = 3,14
h = 5,1 cm
r1 = 3,9cm
r2 = 2,3cm
Logo: V = 157,07 cm³

Tronco Superior!
Onde:
Π = 3,14
h = 1,8 cm
r1 = 4,5cm
r2 = 3,9cm
Logo: V = 99,65 cm³


CONCLUSÃO!

Total do copo: 256,72 cm³ = (aproximadamente) 260ml

Tomando como valores 100ml de colarinho e 160ml de chopp, percebemos que há uma perda de 38% do chopp que deveríamos consumir!!!!!!!

Para você entender melhor: Se o chopp custa R$4,00, o valor justo com essa quantidade de colarinho deveria ser de R$2,48!!!!! Compreenderam o absurdo que pagamos a mais pelo colarinho, e o quanto o dono do estabelecimento lucra com essa atividade?!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Our Heroes

Mapplethorpe says: - would you care for a fag?


Not enough words to describe the gorgeous Lisa Lyon


Stand still baby or I'll shoot you with my burning love



Andy at Philip Johnson's Glass House, Connecticut. By David MacCabe.

Two unique artists that are, always, much more than just a source of inspiration. Be it in painting or photography, there is no denial Warhol and Mapplethorpe were the best agent provocateurs in town, truly brilliant.

Lesbian chic


Sobras dos tempos de vacas gordas que ainda me inspiram ao acordar. E não é para menos.

terça-feira, 10 de março de 2009

Canários no Rio

Eu e José, na Lagoa Rodrigo de Freitas

Anabel e o Homem de Azul, bem, isso está mais pra goiaba.


Duas grandes figuras que eu conheci totalmente ao acaso, os queridos amigos das Ilhas Canárias: José e Anabel, me enviam "los recuerdos" de sua estadia em nossa gloriosa cidade, com direito às bençãos do redentor ao fundo.

Foram dias memoráveis.

Un beso grande y hasta muy pronto!

Performance gastronômica


Nada como se ter amigos, cada provocação, no fundo (bem no fundo), é uma homenagem rendida, uma pequena reverência feita, uma celebração à amizade. Deus sabe que alguns deles devem realmente me ter idolatria, tal é a frequência e o grau de satisfação em me gozar dioturnamente. Ao que parece, causo tão boa impressão que uma nova geração de amigos já se identificou comigo e prontamente aderiu às delícias desse exercício.

Sendo assim, retribuo as homenagens e sugiro que a performance do próximo encontro gastronômico seja similar a do vídeo abaixo. Nicolau providencie as maracas, do visual cuido eu (purpurina não incluída).
O valor do cachê está aberto a discussão. E se vocês me dão licença agora eu tenho que ir ensaiar pra não fazer feio.


segunda-feira, 9 de março de 2009

Receita de Domingo


Junte-se um par de amigos ao redor de uma mesa, prepare com esmero uma receita que agrade a todos, sirva um par de bebidinhas para aplacar a sede e renovar o espírito e deixe o tempo rolar sem pressa e a conversa fluir solta, correto? Correto!

Ainda bem que morderam a isca, eu já estava me coçando para voltar a cozinhar em circunstâncias similares às de acima e esse Domingo finalmente rolou um delicioso encontro entre três aspirantes a chef para lá de inusitados, a saber: uma beldade que redime os males da humanidade com agulhas, um homem azul e o comentarista por excelência (qualquer semelhança com a Liga Extraordinária ou Watchmen será mera coincidência). A expectativa dos comensais em tais circunstâncias é tremenda, mas, felizmente, o universo conspirou a nosso favor e não fizemos feio, o que fizemos foi...ceviche de pescado.

O ceviche é um prato típico presente na culinária de muitos países latino-americanos, entretanto, em nenhum outro lugar adquiriu tanta importância quanto no Peru, onde é considerando como parte do patrimônio cultural do país. Realmente, registros históricos indicam que o processo de se cozinhar o peixe fresco a frio, com suco de frutas cítricas, já era comum há mais de 2.000 anos, durante a cultura Mochica. Posteriormente, com a introdução do limão e da cebola pelos colonizadores Espanhóis o processo de preparação diminuiu com a adoção em definitivo dos ditos ingredientes.

Mas, deixemos as divagações de lado, para se preparar um ceviche a la “Niko Blue K” para 4-5 pessoas são necessários os seguintes ingredientes:

- Companhia da melhor qualidade
- Mulheres incluídas
- Bom papo
- Biritas mil
- Crianças comportadas
- Ter amizade com um feirante de confiança, e ah sim....


- 1 kg de peixe branco firme e fresco (namorado, cação, linguado, bonito, etc.)
- 12 limões
- 5 limões sicilianos (o amarelinho)
- um ramalhete de cheiro verde
- coentro
- 6 tomates
- 2 cebolas
- 1 abacate
- pimenta dedo de moça (se não for Mexicano, use com moderação)
- pimenta de cheiro (à vontade)
- sal a gosto


Colocando a mão na massa, digo, no peixe:

Corte o peixe em dados e coloque-o dentro de um pirex coberto com o suco dos limões, agregue o tomate picado, a cebola em Juliana, o cheiro verde, o coentro, as pimentas e tempere com sal a gosto. Misture bem os ingredientes, cubra com papel filme e deixe descansar na geladeira por 3 horas.

Enquanto isso vá bebericando uma caipirinha de maracujá com Absolut de Baunilha, conte uma vez mais aquela piada que todos já conhecem, veja que diabos as crianças estão fazendo e quando não aguentar mais retire o prato da geladeira, adicione os abacates, misture bem e voilá, a comer!

Mais fácil e gostoso impossível. Acompanha uma boa salada verde ou arroz branco com amêndoas e vinho branco, sempre seco e gelado.

Já fui informado que Domingo que vem tem mais, na presença do mesmo grupo de notáveis e movidos pelo espírito de Démeter e Dionísio, sempre a abençoar nossas experimentações culinárias e a garantir resultados dignos do Le Cordon Bleu.

Mais surpreendente mesmo que o resultado das nossas experimentações só o fato de que a parte mais ruidosa da casa éramos nós e não as crianças, que se comportaram praticamente com a disciplina de monges trapistas. Fiquei até com vontade de ter um filhote, mas antes empresto ele ou ela para os amigos adestrarem que eu, vocês sabem, sou muito indulgente.

E agora vou comer que tão boas lembranças me deixaram com uma fome daquelas. Quem disse que Domingo não pode ser um dia feliz?

sábado, 7 de março de 2009

La Caja de Pandora



E antes que eu me vá, escuto isso e aí sim dá uma saudade danada de España. Volando voy y vengo, intentando dar a mí vida otro sentío. A continuación.

Despertando

Acordando depois de uma inesperada saída com um camarada Lisboeta na noite passada, sem ter muito o que dizer, ainda cheio de sono e com gosto de cigarro na boca seca, onde algo que um dia já foi uma língua se move de um lado pro outro como se fosse uma lixa, me recordando que o fumo e a bebida fazem mal à saúde. Felizmente, ou infelizmente, ninguém me vê assim em momentos onde o glamour reina.

Entre as coisas interessantes que descobri agora na primeira hora matinal recomendo uma olhadela no vídeo do camarada BR, como sempre impagável, numa pungente ode mezzo faroeste para aqueles saídos ou não do armário (ou deveria dizer chuveiro?).

http://www.youtube.com/watch?v=D6PunqtZcMw

Entre as coisas curiosas, desço pra tomar um café no bar da esquina e sou surpreendido por um carro com as portas abertas e com o som tipicamente aos berros. Em situações assim sempre me pergunto porque será que nunca escuto Coltrane ou Gershwin e sempre tem que ser algo como a dança do jumento ou um proibidão do funk mas hoje pra minha supresa tive sorte...o manhã está linda e a música era Tom Jobim! Impssionante.

Parece que amanhã rola finalmente um encontro culinário na casa de madame ana K. só com a presença de notáveis. A obra prima será executada a seis mãos. A conferir.

E pra acabar logo que eu tenho que tomar mais um café, e para complementar o último post, descobri que algumas músicas continuam a causar a mesma reação até hoje, deve-se tomar cuidado ao executá-las em público...oh johnny so much to answer for :)

http://www.youtube.com/watch?v=S5BLluEV-6E

Sua lente não fotografa o amor...laralala

quarta-feira, 4 de março de 2009

Curiosidades musicais

Lançado no princípio de 1987, The World Won't Listen é, mais uma, das muitas coletâneas dos Smiths.

Me lembro exatamente do dia em que, nervoso, fui comprá-lo no Centro Comercial Copacabana na loja Disco do Dia que, infelizmente, não existe mais e que era charmosérrima (as suas bolsas de papel para embalar os discos eram autenticamente retrô).

Acredito que uma das razões para que existam tantas coletâneas dos Smiths, se deva ao fato de que eles sempre trataram cada single como uma entidade única e com a mesma importância e cuidado atribuídos à um long play. Antes de qualquer outra coisa eles sempre priorizaram o formato dos "singles" e transformaram cada um dos seus em arte pura, tanto conceitual como musicalmente.

Não sei se existe outro grupo que tenha lançado tantos singles quanto os Smiths no mesmo período de tempo, o que sim sei é que eles eram inegavelmente uma banda das mais prolíficas nesse quesito. Daí a necessidade de a posteriori lançar coletâneas e permitir ao público a aquisição do canon unificado.

O álbum possui uma das suas capas mais bonitas, uma imagem de rockers dos anos 50 extraída do livro "Rock'n'Roll Times", de Jürgen Vollmer, que entre outras coisas fotografou Stu Stucliffe, o Beatle menos conhecido. A foto é um instantâneo que capta bem a atmosfera de um banheiro masculino da época, todos ali ajeitando seus topetes e dando aquele retoque final antes de chamar o "broto" pra dançar. Com um pouco de imaginação dá até pra ouvir Bobby Fuller Four ou Bill Haley & His Comets no fundo, o salão cheio de pin-ups em vestidos rodados....(suspiro).

Esta foto é a versão original utilizada no formato LP (ai que saudades). Posteriormente, heresia das heresias, os CDs e cassetes foram presenteados com uma horrenda versão cortada da mesma foto, um close da bochechuda figura central que solapou completamente com a beleza da imagem. E não há explicação que me convença da necessidade de se arruinar uma capa dessa maneira, de longe a adaptação para CD que mais me dá raiva.

Outra fotografia do mesmo livro, desta vez de 4 meninas, foi utilizada para a parte de trás do álbum. E a fina ironia é que as 4 meninas estranhamente se parecem com os próprios Smiths (respectivamente com Joyce, Rourke, Marr e Morrissey). Como eu não acredito em coincidências...cheguem às suas próprias conclusões.

Uma curiosidade é que a versão de Stretch Out and Wait incluída no CD é a versão lançada em outra coletânea "Louder Than Bombs", diferindo ligeiramente da versão original que constava no LP. A diferença básica é que na original o primeiro verso é "All the lies that you make up" e na segunda muda para "On the high-rise estate". Musicalmente falando, prefiro tudo como estava na versão original, que é mais bonita.

De todas as formas, é sem dúvidas uma bela coletânea que captura bem os Smiths por volta da era Queen is Dead, quando a perfeição parecia não ter limites nem data para acabar.

Songs that saved my life: Rubber Ring, Asleep, You Just Haven't Earned It Yet, Baby, Shoplifters Of The World Unite e Oscillate Wildly.

http://www.vulgarpicture.com/s_all.html (Iconografia de uma era)



segunda-feira, 2 de março de 2009

Nossos Heróis


Depois que coloquei o banner aqui no blog me lembrei de um cara que eu já não leio faz algum tempo mas que eu adoro, o Surfista Prateado.

Foi um dos primeiros super-heróis a me chamar a atenção, era diferente de tudo o que eu já tinha visto. Suas estórias recheadas de questões filosóficas e metafísicas tinham mesmo um charme todo próprio e aguçavam a imaginação de um garoto que, então, não amava os Beatles ou os Rolling Stones.

Um ser prateado surfando melancolicamente por entre as galáxias, com o espírito contemplativo e nobre, bons valores, belas imagens e excelentes estórias. O que mais se pode pedir?
 

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