quinta-feira, 30 de abril de 2009

Star star



GATHER the stars if you wish it so.
Gather the songs and keep them.
Gather the faces of women.
Gather for keeping years and years.

And then …
Loosen your hands, let go and say good-by.
Let the stars and songs go.
Let the faces and years go.
Loosen your hands and say good-by.

Carl Sandburg

terça-feira, 28 de abril de 2009

Fio dental


Bom dia de novo
Me dizem que é preciso acordar,
O conforto da cama
Em nada vai ajudar
E as horas aguardam lentas
E as horas aguardam lentas

Ansiosas por te entreter,
Mas há tão pouco a ser lembrado
E tanto a se esquecer.
Minha gengiva sangra,
Preciso me lembrar de usar fio dental.

Bom dia de novo
E obrigado por você me escutar,
O silencio me cala, me faz sufocar
E as horas aguardam lentas
E as horas aguardam lentas

Deixe o seu recado após o meu sinal,
Use as palavras mais doces...
Deixe o seu recado após o meu sinal.
Sinto gosto de sangue,
Sinto falta de sal,
Minha gengiva sangra...

É tão claro o céu e é quase bonito o azul,
Eu continuo a preferir o entardecer...
É tão claro o céu e é quase bonito o azul,
Eu continuo a preferir o entardecer...

As pessoas ainda me assustam,
Me lembre de rir no final.
Meu coração sangra,
Preciso de um fio dental.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Quer dançar, quer dançar??


Alô alô rapaziada, é chegado o dia de mexer as cadeiras e começar o fim de semana com pé direito ao som dos reis do pop rock tropical. Isso mesmo, hoje tem 3a1 no Cinemathèque em Botafogo/RJ e o show promete.
.
Quem quiser conhecer o "segredo" mais bem guardado da cena musical carioca e de quebra deitar, dançar e rolar, pode comparecer que a perspectiva é de se contagiar com a deliciosa mistura de rock, pop, muito swingue e entrosamento de primeira de uma banda que, ao vivo, não decepciona.
.
Eu? Que pergunta...é claro que eu estarei por lá.
.
Onde, quando?
24/04
sexta
SHOW
na Festa Pitada
LOCAL
Cinemathèque - R. Voluntários da Pátria, 53 - Botafogo 2266-1014 2286-5731
HORA
22h00 - Início / DJ Galalau
00h00 - SHOW
INGRESSO
R$ 15,ºº - lista amiga
R$ 25,ºº - inteira
.

Pin-up da semana by Lost in Translation



É meus caros amigos, no dia em que um bar inventar um drink dessa dimensão o sucesso está garantido. Deve ser por isso que o Sean sempre pedia martinis, esse cara sabia das coisas.

Como hoje é dia de molhar a palavra, vou arriscar, me fazer de bobo e pedir um desses...nunca se sabe...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Um bar, um lar


Geralmente, ouvimos a seguinte advertência: beba com moderação. Em um bar de Londres a mensagem está mudando: respire com moderação.

Sabe por quê? Alcoholic Architecture, na região de Newburgh, está deixando os seus clientes bastante "alegres" sem precisar de qualquer bebida. Digo, em estado líquido. E explico: o ambiente do bar é preenchido com vapor de gim e tônica. Para entrar no bar as pessoas precisam usar uma capa plástica, a fim de não voltar para casa como um gambá.

A experiência sensorial é acompanhada por uma trilha sonora inusitada: barulho de bebida caindo sobre cubos de gelo. A ideia é fazer com que os clientes se sintam dentro da própria bebida. Hummmm... Por vez 40 pessoas têm esse privilégio. O bar é pequeno. A entrada custa cerca de 20 reais.

Bom, parece que funciona. Olha só a alegria da galera deixando o bar... Prepare o seu nariz.

Postado originalmente em:http://oglobo.globo.com/blogs/moreira/

Meu Deus do céu, e tem gente que ainda não entende por que aquela é a minha cidade...onde está o telefone da agência de viagens!!!???

En garde!



Em Barcelona costumava frequentar um bar de cavalheiros que ficava, sem sombra de dúvidas, em um lugar esplêndido: a Plaza Real. Tratava-se do Pipa Club, que, como o nome sugere, era originariamente um bar idealizado para que os apreciadores de cachimbo pudessem passar suas horas de ócio em meio a fumaça aromatizada, brandies diversos e, possivelmente, sem serem perturbados por exemplares do sexo oposto, como convém a uma confraria de homens.

O lugar possuía um charme muito particular. Para começar, ficava no segundo andar de um discreto edifício e, para entrar, tinha-se que tocar a campanhia, como se fossemos visitar um parente ou amigo, vamos. Subindo-se por uma tortuosa e húmida escadaria, nos deparávamos com um ambiente de evidente toque inglês, com predominância de madeira escura, tecido bordeaux nas paredes, pesadas cortinas de veludo, cheiro de mofo e luz bruxuleante, exatamente do jeitinho que eu gosto (da pouca luz não do mofo, bem entendido).

Passei muitas noites ali, jogando sinuca, fumando cigarro (meus cachimbos haviam ficado no Rio), evidentemente bebendo bastante e filosofando sobre os dissabores da vida no estrangeiro com senhores de igual condição. Na verdade, minha descrição pode soar pobre e soará, mas o lugar é incrível e tem até mesmo um mini museu do cachimbo com exemplares vindos dos quatro cantos do mundo, incluindo tribos do alto Amazonas.

E aí vamos ao ponto do post, a decoração local incluía quadros de velhas fotografias retratando homens lutando com bengalas (em trajes similares aos do amigo aí acima), e que eram sensacionais.

Não me lembrava de ter visto semelhante cousa em toda a minha vida, mas imediatamente, num arroubo próprio desses de homem, dandy e azul, decidi que iria tentar descobrir mais sobre a prática desse tão nobre esporte.

E efetivamente um dia, para meu deleite, eis que estou com esse meu jeito muito pachorrento, deitado no sofá de casa, zapeando a esmo os canais da magnífica televisão espanhola, quando começa a passar uma reportagem exatamente sobre a luta de bengalas, tradição francesa e cujo nome correto é la canne e que está muito associado ao boxe francês, o Savate.

O esporte, ao que tudo indica, foi inventado pela alta burguesia francesa, a princípios do século XIX, como meio de defesa contra a turba de rufiões e desordeiros que infestavam as grandes cidades Européias, como Paris e Londres.

Dizem que o esporte foi tão difundido nesse período, que chegou a ser mesmo utilizado pelo exército francês. Até na guerra esse povo é chique, já estou até a ver: Mui caro inimigo, tenha a bondade de render-se ou terei que cobrir-lhe de bastonadas em nome de sua majestade. Mon Dieux!

Um dos grandes mestres desse curioso esporte foi Pierre Vigny, que foi professor da London Boxing Club, e que desenvolveu e codificou as técnicas do combate com bengalas. Sua mulher, ao que parece, incentivou as damas da sociedade Londrina a defender-se utilizando a sombrinha como arma letal com resultados surpreendentes, para os pobres punguistas evidentemente.

Infelizmente, com a chegada do século XX, a prática do esporte quase chegou ao seu fim e ficou restrito a pequenos círculos dos clubes de Savate, onde sobreviveu. Foi só a partir dos anos 60, que as bengalas voltaram a ser agitadas e a difundir-se, desde então o número de praticantes não pára de crescer.

Eu mesmo procurei e achei um clube para praticar la canne em Barcelona, entretanto, a volta ao Rio não me deu tempo de fazer a matrícula, comprar o traje apropriado (fraque e cartola) e começar a distribuir bordoadas pela vizinhança contra os cães catalães.

Entretanto, sigo pensando seriamente em comprar uma bengala por motivos evidentes, primeiro, a senilidade caminha a passos rápidos e segundo, a realidade urbana que nos cerca pede medidas extremas no quesito auto-defesa.

Pensando bem, talvez fosse conveniente embutir uma metralhadora na minha bengala para tornar as coisas mais equilibradas. Por outro lado, se a morte for inevitável, que seja encarada com elegância, tudo muito chic e, principalmente, de forma original.

I’m singing in the rain, just singing in the rain....

sexta-feira, 17 de abril de 2009

If


If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too:
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or being hated don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;

If you can dream and not make dreams your master;
If you can think and not make thoughts your aim,
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same:
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build'em up with worn-out tools;

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings,
And never breathe a word about your loss:
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on!"

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with Kings---nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you,
If all men count with you, but none too much:
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man, my son!

Rudyard Kipling


Food for thoughts mates, food for thoughts.
Weekend's ahead and nothing else matters.
And now let me go lads, there's a commentator awaiting in the bar round the corner.
Can't you hear the pints clashin'? Cheers.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A arte de ser seduzido #1


A sedução é algo realmente impressionante, se é bem verdade que nem todos levam jeito para a coisa, não existem regras e cada pequeno detalhe pode fazer a diferença: um olhar, o jeito de sorrir, o atuar e o não atuar podem ser motivo para enredar o mais desavisado dos homens. É meu amigo, quando você viu a sua vaca já foi pro brejo e não há trator que a reboque de lá.
Kim Falcon, a beldade aí acima, é uma pin-up profissional, e como tal, trabalha a sedução em gênero, número e grau; e nos recorda como Deus foi generoso ao criar a mulher. E pensar que tem gente que não gosta...
Apenas divagações de uma tarde de quarta-feira. Onde está meu marcapasso?
Fotografada por Darkman MUA Marissa Freeman
Vestida por Stopstaringclothing.com

Ser ou não ser


O que tem Manchester de especial que a converte em um berço de gente tão talentosa? Que os seus ares cinzentos e industriais fomentam a criatividade não há dúvidas, basta dar uma olhadela em alguns dos nomes mais famosos da cidade: Shelagh Delaney, Conan Doyle, Buzzcocks, The Smiths, The Stone Roses, Joy Division, The Fall, John Cooper Clarke, Pete Postlethwaite, Ben Kingsley, Ian McKellen, you name it, em qualquer campo, literatura, teatro ou música, tem gente do melhor pedigree.

Ontem fui precisamente ver o último filme de um de seus filhos de que mais gosto, Mike Leigh. O diretor de “Naked” nos propunha agora ser “Simplesmente Feliz” (Happy-go-lucky no original).

Difícil descrever a sensibilidade contida nesse filme, e com isso digo que a história de Poppy, a adorável professora primária do norte de Londres, tão brilhantemente interpretada por Sally Hawkins (que eu não conhecia e me apaixonei de imediato), me causou uma sensação de prazer imensa.

No filme, Poppy é de um otimismo à prova de balas e encara situações cotidianas, onde a bílis de qualquer mortal se revolveria no estômago com direito a impropérios de todo tipo, através de lentes cor de rosa e com um bom humor que realmente, a princípio, irrita.

'Ora bolas. Nem tive tempo de me despedir dela' - Exclama Poppy sorridente, ao notar que sua bicicleta havia sido roubada, logo no começo do filme. Será que escolhi o filme certo? Essa personagem está meio tatibitati demais - pensei.

Entretanto, com mão certeira, Mike Leigh vai aos poucos construindo mais uma história sobre o cotidiano de gente comum, interpretada com carinho por atores excelentes. O que tinha tudo para ser apenas uma comédia sentimentalóide, emociona e leva a reflexão sobre como queremos encarar a vida e o quanto estamos dispostos a tentar de verdade ser felizes.

Destaque para Scott, um show de interpretação de Eddie Marsan, que faz o contraponto ácido e amargo à personalidade aparentemente poliana de Poppy e que é responsável por diálogos desde já memoráveis.

Se é possível ser simplesmente feliz? O exercício não é fácil mas não custa tentar, estamos focados nisso.
En-ra-ha! En-ra-ha!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Vamos nessa

Já viu o dia lindo que está fazendo? Tome a sua dose diária de música e boa terça!


segunda-feira, 13 de abril de 2009

Fumando cerejas


Fumar cerejas com você me faz sonhar,
Ouvindo jazz a noite inteira,
Contando estrelas num abraço apertado e
Saudando a silhueta na parede,
Do seu corpo a me enroscar

Você me morde, me deixa roxo,
O seu rosto se ilumina, no crepúsculo da sala de estar
Onde os gatos brincam, e o tempo já passou.
O seu sorriso me acompanha até o elevador,
E já fico com aquela vontade de querer voltar

Mas, enquanto o amanhã não chegar,
A sua imagem é só o que me restou,
Copacabana é linda e me convida a caminhar.
Andando tonto pela areia, até em casa,
Eu só penso em chegar logo pra dormir, descansar
E lembrar de você, e lembrar de você...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Arrumem os móveis da sala


Outro dia tive um duplo prazer, ter comparecido, depois de anos de ausência devido ao exílio, ao aniversário do Comandante Che Guevara por excelência, meu querido camarada e parceiro Dimitri BR e o de, nesta ocasião, ter finalmente adquirido o segundo disco, recém lançado, de uma banda que me conquistara no início do ano, Luisa Mandou Um Beijo.

Como já comentei aqui, tive o primeiro contato com eles na última edição do Humaitá Pra Peixe e saí do show de alma lavada, contente por ver que a minha terra ainda é capaz de produzir boas surpresas no quesito música (alguém duvida?). Ainda mais dentro de um segmento que me é caro e parece pouco associado aos ares tropicais das nossas praias, o chamado rock independente, mas que aqui consegue fundir os dois conceitos à perfeição.

Pois bem, o segundo disco do sexteto carioca não é bom, é excelente e melhor produzido e com os arranjos e letras muito mais trabalhados do que no primeiro, também entitulado Luisa Mandou Um Beijo (e que já era muito bom).

Das leves guitarras melodiosas, passando pela potente cozinha e pelo trompete que é a marca registrada da banda (e que está muito melhor empregado nesta nova bolacha), até chegar às letras criativas e que fogem do lugar comum, está tudo lá.

O disco abre com a deliciosa "Borboleta Imperial", talvez a faixa que mais remeta ao primeiro disco, e que dá vontade de sair correndo por um jardim multicor em busca de Lepidópteros pra alegrar a sua vida.

As faixas "Memórias da Praia", com a participação do Ian Curtis carioca nos backings (sinto decepcioná-los meninos, não sou eu) e "Peixe Pequeno", nos transportam para essas manhãs de sol tão gostosas, para se desfrutar sem pressa e com quem se quer bem. Cenas cheias do espírito das nossas gentes, bem no clima do disco.

"A Odalisca e o Pirata", repleta de charme carioca a la Hermanos mas sem perder a personalidade (dá até pra visualizar um Amarante sacodindo o esqueleto animadamente assoviando), é perfeita para se cantar abraçadinho no meio da muvuca dos blocos dos carnavais que hão de vir. Não tem erro moço.

Os destaques vão para "Na Capital", "Cosquinhas de Manhã" e "O Maracá". A primeira, uma acre-doce ode urbana, convida todos a resisistir, tentar ser feliz e a desfrutar de um lindo dia de Sábado, ainda que as atmosferas chuvosas e os tons sombrios nos persigam. A segunda fala, como não, de amores e dessa eterna relação amor-ódio que permeia certas relações em muitos casos e a última faixa, que encerra o disco de forma magistral, nos lembra que nunca é tarde pra chegar na festa proposta por Luisa, um cenário solar onde pode-se rir, chorar, brincar, amar e receber beijos, doce como esse ao pé do ouvido.

Depois desse alegre passeio, ainda tem uma surpresinha escondida...uma amostra da nossa música preferida, "Homem Azul", que ainda não entrou nesse disco.

Que venha o céu lilás.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Discos, Torak, Guitarras e outras estórias


Hoje, lendo o artigo que traduzi abaixo, não pude deixar de me lembrar de um longínquo tempo onde dois garotos, um mais velho e outro mais novo, brincavam e eventualmente descobriam música juntos.
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O mais velho já se achava o rei do pedaço e era obcecado por música, o mais novo parecia não ter muito interesse pelo tema mas escutava resignado ao discurso inflamado do outro e resistia às sucessivas sessões de discos estranhos, mais interessado que estava em brincar com o seu He-man.
.
O tempo passa e, contrariando as expectativas, o mais novo se torna um excelente guitarrista, além de um respeitável pai de família. O outro, bem, dizem que virou crítico musical, desatualizado mas ainda radical.
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A amizade? Essa continua lá, e eles ainda são uma gangue, dessas coisas que a gente sabe que vai ser pra vida toda.

Esse artigo vai dedicado ao meu guitar hero preferido, e um pouco pra mim também, sabemos bem o que se sente (verdade?); e a tão bons momentos e lembranças ao longo da vida. De alguma forma, me sinto realizado quando aquela guitarra toca e sei que a próxima geração promete, a estória se repete...among friends, from father to son.


Billy Bragg - Artigo publicado na Q Magazine Inglesa

Existe alguma coisa com relação ao ato de se ter uma guitarra pendurada na altura da virilha que é atraente para meninos durante a adolescência. O garoto de 14 anos que morava na casa geminada ao lado me ensinou a tocar durante o verão de 1974 e a partir desse dia éramos uma gangue, encarando as águas agitadas da adolescência juntos, protegidos pelo nosso compromisso um com o outro e com a música que nós amávamos. Após recrutar um baterista, que vivia um pouco mais adiante na rua, nós três passávamos os anos esperando pelo surgimento do punk, tocando canções dos Stones, The Who e The Faces, na sala detrás da casa dos meus pais.

Meu pai apoiava nossos esforços, coisa surpreendente para ele. Nascido em meados da década de 1920, a sua própria adolescência tinha sido dominada pela guerra. Já em seus trinta quando Elvis apareceu, o rock'n'roll veio tarde demais para ele. Como resultado, ele não tinha interesse por música pop, nem entendimento de como ela poderia transportar seu filho, da rotina mundana de casa e exames para um mundo de fantasia onde eu e meus amigos éramos heróis com guitarras penduradas abaixo da linha da cintura.

Eu não posso deixar de simpatizar com a sua situação ao me deparar com meu próprio filho de 14 anos absorto em outro jogo de luta no seu Xbox 360. Claro, que não há nada que realmente me impeça de pegar o outro joystick e lutar ao seu lado, enquanto ele batalha um pacto que os impeça de ativar Halo, mas, para ser honesto, não é a minha. Quando o primeiro Nintendo Game Boy tornou-se disponível na Grã-Bretanha, eu já estava bem avançado nos meus trinta. Vejo esse gadget como um brinquedo, ao invés de um meio pelo qual escapar para um mundo de fantasia com seus amigos.

A chegada do Guitar Hero III desfocou esse entendimento. Aqui estava algo que o pai podia compreender, algo que ele poderia até dar o jeito de entender, se lhe fosse explicado lentamente. Na verdade, por um instante, o meu dedilhado me deu a vantagem até o garoto entender como eu fazia isso para em seguida arrancar, me deixando preso no modo iniciante, anunciando meu fracasso através de “Fora da Escola".

Então aconteceu algo milagroso. Enquanto eu estava longe em turnê, alguns dos seus amigos aficionados pelo Guitar Hero apareceram com as suas novas guitarras elétricas, querendo testá-las em um dos meus amplificadores. Era como se tivessem colocado um verdadeiro rifle do Corpo das Nações Unidas nas suas mãos e lhe enviado para a batalha contra as inundações. Ele rapidamente começou a se entusiasmar por tocar guitarra e, fundamental, isso lhe foi transmitido pelos seus pares, não por seus pais.

Durante as férias de Verão, sua forma de tocar foi ficando cada vez melhor. Eu mostrei para ele algumas posições fáceis e apresentei ele aos Ramones. Logo, ele e seus amigos estavam tocando "Blitzkrieg Bop" na garagem. Eles têm amplificadores pequenos para praticar e plugam o vocal através do meu velho Fender Twin, que prestou serviços excelentes no seu tempo, mas ultrapassava seus momentos de ostracismo como um obstáculo a ser negociado, enquanto eu descarregava a mercearia do carro.

Agora a sua música enche a casa. O que inicialmente soa como uma grande vespa zangada aprisionada em uma lata de biscoitos, se transforma nele praticando os acordes de "Another Girl, Another Planet" no quarto de cima. Às vezes, enquanto eu vou desligando as luzes e fechando as janelas como a última coisa da noite, escuto ele tocando uma melodia na sua guitarra elétrica desplugada. E, de alguma forma, ele parece ter crescido seis polegadas desde que pegou a maldita coisa.

Ele raramente liga a Xbox estes dias, ao invés disso, tem grande prazer em me mostrar o último riff que aprendeu. Depois que um de seus cúmplices lhe ensinou a tocar uma introdução rudimentar do Chuck Berry, passei algumas horas tocando guitarra base para ele, enquanto ele praticava a sua pegada Johnny B. Goode. E quando o grande homem em pessoa tocou num festival próximo, nós fomos juntos, pai e filho, de pé no meio da multidão, numa noite escura de sexta-feira prestar a nossa homenagem ao Chuck Berry, um filho de meados da década de 1920, exatamente como o meu pai.

The Milkman of Human Kindness


London - A milkman makes his normal rounds through piles of rubble after an air raid. (1940)





London - a man & his guitar, simplicity and emotion crafted in a perfect song. (1984)

If you're lonely, i will call -
If you're poorly, i will send poetry

I love you
I am the milkman of human kindness
I will leave an extra pint

If you're sleeping, i will wait
If your bed is wet, i will dry your tears

I love you
I am the milkman of human kindness
I will leave an extra pint

Hold my hand for me i'm waking up
Hold my hand for me i'm waking up
Hold my hand for me i'm making up
Won't you hold my hand - i'm making up

If you are falling, i'll put out my hands
If you feel bitter, i will understand

I love you
I am the milkman of human kindness
I will leave an extra pint

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Pin-up da semana by Lost in Translation


Nossa colaboradora, nos presenteia esta semana com a arte de Alberto Vargas. Toda a elegância do traço de um craque!
Merci, Amèlie!

Elegia canibal

Vou voltar pra minha terra,
Lá, onde o mal não habita
Escutar o som das águas,
E dormir até você chegar

Mas minh’alma está faminta
E depende de você,
Aceite nossa contradança
Hoje o dia é de onça, seu corpo vai me pertencer

Quem estira o pescoço dos pássaros somos nós,
Só o papagaio voando fugirá,


Cantando até o amanhecer
Cantando até o amanhecer
Cantando até o amanhecer

terça-feira, 7 de abril de 2009

Sonetos da Alma


Alma Welt (1972-2007), foi uma escritora Gaúcha, morta inesperadamente, e que deixou uma vasta obra, abrangendo sonetos, romances, contos e cujo impacto não deixa de ser assombroso.
A autora, mulher jovem, bela e misteriosa, não se deixava fotografar, somente permitindo a divulgação de seus retratos em desenhos, gravuras e pinturas a óleo de Guilherme de Faria, seu "retratista autorizado", pintor paulista que a ilustrou, prefaciou e editou; e que lançaria no meio artístico aquela que viria a ser considerada por muitos a "última grande lírica do século XX", poeta e musa ao mesmo tempo.


Soneto de Outono

Voltou o Outono e sua quietude
Estação de mortal melancolia
Em minha’alma, malgrado a juventude
Que afinal ainda me anima, serve e guia.

Lanço quadros, em ouro matizado
De vermelho, mas em telas abstratas,
Abstraídas folhas, cataratas
De cores, tons, e frio antecipado.

É o Outono nórdico, dentro em mim,
Pois que aqui a cidade se acinzenta
E dói como um cristal dentro de um rim

Que urina sobre a tela em ouro e sangue
Produzindo esta matéria densa e lenta
Onde a alma chafurda como em mangue

Alma Welt

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Our Heroes

A man and his cap

Leonard Cohen has been one of the most important and influential songwriters of our time, a figure whose body of work achieves greater depths of mystery and meaning as time goes on.

The power of his songs has no parallels in their beauty and range. He has relentlessly examined the largest issues in human lives, and although the answers for common mortals like us are mostly not clear, we travel with him in his personal journey, still looking for Suzanne, going deep down into the human essence.
.
To be able just to rub the edge of his mantle, is a everlasting pleasure and one of the reasons why his songs never lose their overwhelming emotional force.
-x-
"And just when you mean to tell her
That you have no love to give her
Then she gets you on her wavelength
And she lets the river answer
That you've always been her lover
And you want to travel with her
And you want to travel blind
And you know that she will trust you
For you've touched her perfect body with your mind."

Música para um dia chuvoso



O tempo melancólico fez com que hoje de manhã começasse o dia escutando um jovem talentoso, bonito, morto precocemente, dono de uma voz pessoal + arranjos sofisticados, que ficou praticamente desconhecido por mais de duas décadas, afinal, quem foi Nick Drake?

Não sei, mas que a sua música nesses dias grizes alcança uma textura e uma beleza triste que toca lá no fundo e faz sentido, isso é inegável.

Boa chuva.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Calma, meu anjo!


A riqueza de eventos que podem suceder dentro dos nossos coletivos não cansa de me surpreender e, às vezes, compensa qualquer agrura pela qual nós, usuários, tenhamos que passar.

E não é que ontem, sacolejando na volta do trabalho, com o corpo alquebrado e a alma decaída, um evento em especial não pôde deixar de me fazer rir.

A situação que se deu era a seguinte, quase chegando em casa, o ônibus pára fora do ponto para recolher uma passageira, que, efetivamente sobe, já aos gritos, e dirige-se ao pobre do motorista com expressões pouco nobres e alvissareiras.

O motorista contesta com igual cortesia, a troca de elogios prolonga-se e a menina, do alto dos seus 20 aninhos, diz:

- Tem que parar, tu tem que parar quando eu fizer sinal, tu também parô pro outro fora do ponto que eu vi!

- xyz@grrrnhemnhem##$@%**

- E vai te ferrar você, seu mané!

- ¨”!@#$%**+ngenhanerenh*&¨


O trocador, parecendo o William Bonner, aparta daqui, aparta de lá, dá um minuto de réplica para um, 30 segundos de tréplica para a outra e eu saindo do meu estado cataléptico pensando – Pombas! Está reclamando do que se o ônibus parou para te apanhar, e ainda por cima fora do ponto? Afinal, será que eu perdi alguma coisa ou essa discussão é completamente sem sentido?

Além de não estar entendendo patavinas já imaginava a via crucis que me acompanharia até o conforto do lar, quando o cidadão do meu lado, um tipo quarentão jovial e com uma cara jocosa, interrompe a discussão e exclama:

- Calma meu amor, calma meu anjo!

A menina que, por um segundo, não sabe se ajeita o cabelo ou se segue na discussão, opta afinal pela última opção e prossegue na batalha.

- Calma meu amor, calma meu anjo!

- Não fica assim não, você é tão bonita, você é linda!

A interlocutora dá sinais de leve ansiedade, hesita, mas segue inabalável na sua cruzada contra os mouros, digo, contra o motorista.

- Calma meu amor, calma meu anjo!

- Esquece isso minha linda, isso não vale a pena! – Diz meu companheiro de assento, com um leve sorriso nos lábios e virando-se para mim com um olhar gaiato como quem diz: - Mandei bem, né?

A discussão parece ir diminuindo, a menina passa a roleta e se senta na nossa diagonal direita. Entretanto, creio que deveria ser ariana ou escorpiana, porque definitivamente era mais obstinada do que eu e segue tentando atingir o motorista de todos os modos, agora, tricotando com o trocador sobre – Aquele cretino blah blah blah, como se o condutor ali já não estivesse.

E foi então que, o já famoso bordão, dessa vez foi repetido em uníssono, por todo o ônibus, que feliz e contente bradou: - Calma meu amor, calma meu anjo! - E não satisfeitos: - Você é linda!

Bom, cortando em miúdos, a menina ruborizada finalmente calou-se e o show parecia ter terminado, quando meu companheiro de assento se levanta abruptamente para saltar, se aproxima dela, continua tecendo elogios à sua formosura de forma melosa e não satisfeito saca um filhote de poodle não se sabe de onde e o entrega para a megera domada que o olha incrédula, ato seguido salta do ônibus e fica mandando beijinhos do lado de fora.


Mais estupefacto fiquei eu, naturalmente, com o descortinar de uma cena tão Feliniana diante dos meus olhos. O fato é que a morena saltou comigo e ficou a brincar com o cachorrinho, alheia aos disparates recém cometidos e visivelmente feliz.


Que o cara é gênio e tem experiência no trato feminino não se discute, agora, uma coisa segue me intrigando e não é o motivo da discussão...de onde diabos ele tirou aquele cãozinho??
 

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